quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Num reino qualquer


Certa vez num reino não tão distante havia um rapaz que não falava.
Ele era secretamente apaixonado por uma jovem de uma aldeia vizinha.
Adoraria se declarar, mas como faria isso? Sem poder falar todas as alternativas soavam ridículas.
Após muito pensar, resolveu encontrar-se com o feiticeiro mais antigo e mais recluso do reino.
Esse feiticeiro era conhecido por resolver qualquer problema por mais difícil que fosse.
Entretanto, o preço que cobrava era pra poucos. Os poucos que estavam realmente dispostos.
Ao chegar na morada do feiticeiro o rapaz não encontrou ninguém. Ouviu apenas o seguinte:
Apanhe o cajado que está na sua frente ou vá embora.
O rapaz apanhou o cajado e no exato momento que o fez ficou cego.
Gritou assustado e percebeu que podia falar.
Ele havia conseguido o que queria.
Partiu imediatamente dali utilizando o cajado para guiar-se.
Com grande dificuldade encontrou a moça que amava e declarou-se de maneira magistral.
Não ganhou apenas a fala, mas uma eloquente dicção que agradava a todos os ouvidos.
A jovem ficou verdadeiramente encantada, porém confessou-lhe que sua maior paixão era pintar.
E adoraria um companheiro que pudesse apreciar seus trabalhos, criticar e lhe apoiar no que fosse preciso.
Desolado, o rapaz voltou à residência do feiticeiro e novamente não encontrou ninguém.
Ouviu apenas o seguinte: Deixe o cajado no chão ou vá embora.
No momento que largou o cajado no chão, voltou a enxergar.
E a primeira coisa que viu foi uma enorme tabuleta de pedra.
Saiu correndo de lá e a medida que avançava percebeu que tudo estava muito quieto.
Mesmo com essa constatação foi ao encontro de sua dama, até então, inalcançável.
A moça ficou verdadeiramente feliz ao saber do aparente milagre que havia ocorrido.
Correu então para mostrar-lhe todas as suas pinturas e desenhos.
A jovem radiante notou que o rapaz estava muito calado.
Ao questioná-lo não obteve resposta. O rapaz já não ouvia.
Quando percebeu isso a moça entristeceu-se profundamente e escreveu-lhe um bilhete.
Nele dizia que ela realmente gostava dele. Isso o deixou feliz.
O que o deixou triste foi saber que os pais dela eram os instrumentistas mais respeitados do reino.
E costumavam dar grandes festas ao ar livre sempre com muita dança e música.
Ela precisava de alguém que se divertisse junto e apreciasse a arte de seus pais.
Após ler aquilo o rapaz voltou imediatamente para a casa do feiticeiro.
Ao entrar deparou-se com centenas de rosas vermelhas espalhadas no chão.
Olhou para frente e leu em voz alta o que estava escrito na tabuleta:
- Leve uma rosa e nunca mais volte.
Fez o que lhe foi instruído e enquanto caminhava para fora dali ouviu um trovão ao longe.
Pouco tempo depois passou a escutar a chuva que havia começado.
Olhou para o céu, abriu os braços e apreciou a precipitação.
Não sentia mais as gotas que caíam.
A moça ficou novamente surpreendida.
E exultante de tremenda felicidade deu um abraço apertado no rapaz seguido de um longo beijo.
Ele não sentiu nada.
Inspirada com o vermelho vivo da rosa, a jovem alcançou diversas tintas e prostrou a pintar sem demora.
Combinou também com o rapaz de se encontrarem a noite para que ele conhecesse seus pais.
O rapaz despediu-se dela e estranhamente não sentia nada.
Voltou para casa e esperou a noite chegar.
Quando já estava quase pronto para sair ele ouviu uma batida na porta. Era a moça.
Ela estava belíssima. Usava um vestido deslumbrante, uma tiara dourada e a rosa destacava-se nos seus cachos negros.
Ele ficou surpreso ao vê-la.
Imediatamente ela perguntou-lhe onde ele havia arranjado aquela rosa.
Ele tentou desconversar, mas ela insistiu dizendo que aquela rosa foi o melhor presente que já havia ganho.
E que ficaria muito agradecida em poder apreciar mais daquela beleza natural.
Ele estava olhando pra ela. Não sentia nada.
Ela o beijou e implorou mais uma vez.
Ele continuava olhando pra ela. Não sentia nada.
Porém concordou por fim.
Segurando em sua mão o rapaz guiou a jovem até a casa do feiticeiro.
Dessa vez haviam muito mais rosas. Não era possível ver o chão.
Enquanto rodava no meio daquele mar vermelho a jovem ria e cantarolava.
Ela entregou-lhe uma rosa e enquanto aninhava-se em seus braços perguntou o que ele achava daquele perfume.
Doce e inebriante, ele lhe disse.
Ela concordou e enquanto deitava a cabeça no peito do rapaz ia ficando cansada.
O rapaz sentiu os olhos pesarem e sentou-se no chão puxando-a pra junto de si.
Deitaram-se entre as milhares de pétalas.
Ele não sentiria mais nada.

domingo, 4 de setembro de 2016

Winter On Fire: Ukraine's Fight for Freedom


Transportar. Essa é uma ótima palavra para descrever o que se passa ao assistir Winter on Fire.
Com a câmera no meio do povo, o documentário produzido pela Netflix percorre os 93 dias da ocupação de Maidan, praça central da capital Kiev. E, sem exagero, é possível sentir toda a angustia, medo e revolta.

Através de uma rápida apresentação ficamos a par da situação do país. A Ucrânia, que já havia se declarado independente em 1991 da União Soviética, elegeu Viktor Yanukovych. Viktor era um candidato pró-Rússia que prometeu assinar um acordo de livre comércio com a União Européia (UE). Com o país em dificuldades econômicas quase metade dos ucranianos acreditava que essa integração deveria acontecer. Entretanto, Yanukovych ignorou o acordo e se voltou secretamente para a nação de Putin.

Devido o acordo não ter sido assinado, em 21 de novembro de 2013 um protesto espontâneo ocorreu em Maidan. Diversas pessoas - estudantes universitários em sua maioria - se reuniram para demonstrar sua insatisfação e em troca foram agredidos pela Berkut, uma polícia especial do governo. Os protestos passaram então a ser não apenas pela integração Européia, mas também pelo direito de liberdade e de expressão como cidadão.

"Todos juntos somos fortes" e "Kiev, fique de pé" eram frases entoadas pelas pessoas presentes na "marcha dos milhões". Essa marcha, que não foi a única, tinha como destino o palácio presidencial. Dessa vez gás lacrimogênio e bombas de efeito moral foram os protagonistas do embate entre a polícia e o povo, deixando espaço ainda para o sangue que se via por todo lado.

Enquanto uma reunião ocorria com representantes dos EUA e UE a Berkut tentava tomar a praça. Unindo os braços e cantando o hino, os resistentes de Maidan conseguiram impedir o avanço da polícia. Depois desse episódio, barricadas foram construídas com sacos de neve, estacas, pneus e arames para isolar o local. Militares reformados ensinaram as pessoas como se defender de maneira
eficaz e os líderes religiosos estavam do mesmo lado.


Maidan em 31 de dezembro de 2013


Após a virada do ano, foram aprovadas várias leis com caráter ditatorial. Por exemplo, o governo poderia bloquear a internet a qualquer momento e era proibido  usar capacetes. De forma irônica, diversas pessoas passaram a sair com escorredores de macarrão na cabeça e uma outra marcha iniciou-se até o parlamento para contestar essas novas leis. A Berkut bloqueou novamente o caminho e com a ajuda de Titushkis (mercenários que cumprem qualquer ordem em troca de
dinheiro) espancaram civis exaustos. Balas de barrocha deram lugar a balas reais e o centro de remédios e curativos foi destruído. Estava instaurado um cruel conflito entre o povo ucraniano. Polícia contra população.

Os militantes que protestavam nos carros (a AutoMaidan) tiveram seus automóveis destruídos, retirados dos próprios veículos e levados para continuarem sendo espancados. Isso foi feito graças uma parceria entre a Berkut e a polícia de trânsito. As filmagens desse momento são bem tensas e é possível sentir o medo das pessoas que eram surpreendidas na estrada.

Em fevereiro de 2014, três pedidos foram feitos: liberação dos presos políticos, igualdade de poderes entre o parlamento e o presidente e, por último, a antecipação das eleições. Para serem ouvidos, uma marcha pacífica foi organizada, mas não conseguiu chegar ao parlamento. A Berkut aguardava juntamente com os Titushkis. Estes últimos estavam mais organizados e faziam o que a polícia não podia fazer.

Os manifestantes que voltaram para Maidan depararam-se com franco-atiradores. O cenário era de diversos mortos. Pessoas arrastando feridos em meio a uma chuva de balas. pessoas defendendo-se apenas com um escudo de madeira, pessoas sangrando até morrer. O inferno era ali.
Após esse episódio, o povo exigiu a renúncia de Yanukovych ou entrariam em um confronto armado.
A polícia de choque recuou e o presidente fugiu do país.

O filme nos mostra uma história real e recente perturbadora. O governo, que deveria servir ao povo, não aceitou contestação e utilizou seu braço policial para dialogar. Um protesto que iniciou-se com o sentimento de insatisfação evoluiu para a defesa dos direitos humanos e contra o abuso de poder.
O mais terrível é saber que essa história ainda não acabou.
O governo interino assinou o acordo de associação com a UE, a Rússia considerou a revolução como um golpe de Estado e invadiu a Crimeia (território pertencente à Ucrânia). Além disso, protestos pró-Rússia despontaram no país iniciando uma guerra civil no Leste que dura até hoje.



domingo, 24 de julho de 2016

# Diálogos



# Na sala de espera

- Daí eu disse pra ela: Brigar por você? Eu não brigo nem pra
  conseguir um assento no ônibus!
- É isso aí, cara. Mandou mesmo.
- Senhores, podem seguir o corredor. Primeira porta à esquerda.

# Na entrevista

- E, se vocês pudessem, que animal seriam?
  Começando por você aí do canto.
- Bom, eu diria um hipopótamo. Porque ele destrói os obstáculos mantendo
  o caminho livre pra continuar seguindo em frente.
- E você?
- Eu seria uma formiga, pois trabalha em equipe, possui organização e disciplina.
- E quanto a você?
- Lagarto.
- Um lagarto?
- É. Um lagarto.
- Um lagarto?
- Um lagarto.
- Por que um lagarto?
- Bem, eles andam nas paredes.
- Anham.
- É.
- Ééé...
- Bom...e...sabe?...eles comem insetos.
- Ééé...
- E se eu me esforçar bastante posso me tornar um dragão-de-komodo...ou...algo...mais...
- Ééé...acho que não é assim que funciona.
- E também tem o rabo. Se cortarem meu rabo nascerá outro em poucos dias.
- Eu acho que já tá bom por aqui.

# Na casa da mãe

- Então você não consegui o emprego?
- Eu não diria isso, mãe. Essas dinâmicas sempre deixam as avaliações incompletas.
  Tá tudo ainda muito em aberto pra afirmar algo.
- Mas você mostrou os diplomas? Eles viram as notas?
- Não. A gente ficou mais na conversa informal mesmo.
- Ficaram conversando?
- É. Trocando ideias sobre natureza, animais. Ecologia, essas coisas.
- Entendi. E como é que tá a comida? O molho tá bom?
- Tirando esse cabelo aqui tá excelente.

# Na loja

- Eu queria uma camisa.
- Por quê?
- Por que o quê?
- Por que o senhor quer uma camisa?
- Por que eu sujei essa com molho.
- O molho tava bom?
- Faltava sal.
- E o senhor disse?
- Disse que queria uma camisa.
- Não. Disse que faltava sal?
- Não. Já tô acostumado.
- Entendi. E o que o senhor disse antes?
- Que tinha um cabelo.
- Não. Antes agora.
- Que eu queria uma camisa.
- Queria? Não quer mais?
- Ainda quero.
- Preferências?
- Loiras.
- Não. De camisa.
- Uma que cubra o corpo.
- Algo mais específico.
- Sem mancha de molho.

# Na porta da casa da namorada

- E muita gente associa os dinossauros aos lagartos. Só que isso é um baita erro.
  Se você reparar bem, os velociraptors e até os tiranossauros são muito parecidos com
  galinhas grandes. E as aves são animais de sangue quente assim como os dinossauros eram.
  Diferente dos lagartos que são répteis e possuem sangue frio. Portanto quando...
- E o que isso tem a ver com a gente?
- Meu bem, eu tava tentando falar uma coisa, mas acabei divagando. Só abre a porta
  pra eu te olhar nos olhos e dizer...

# Na sala de espera

- Daí tu disse o quê?
- Que eu comprei uma camisa!
- É isso aí, cara. Mandou mesmo.
- Senhores?

quarta-feira, 20 de julho de 2016

.



- Então você conhece uma pessoa. Uma pessoa interessante, agradável. Uma pessoa que te faz bem. Pode-se dizer que é a pessoa da sua vida.
E vocês estão juntos. É perfeito. Na verdade é mais que perfeito. É o início do "felizes para sempre". Só que a partir desse ponto mágico
duas coisas principais podem acontecer.
  A primeira é permanecerem juntos. Um casal, uma dupla, uma parceria para todos os momentos que virão. Um time que com o passar do tempo
se conhecerá por completo. Sem segredos, sem detalhes curiosos, sem novidades. A rotina que se torna cômoda. A comodidade que se torna
segurança. O inevitável desgaste natural da vida a dois. O sentimento muda. Menos intenso, menos abrasivo. Talvez até inexistente.
Porém estão juntos. Juntos até o fim da vida.
  A segunda coisa que pode acontecer é novamente o fim. Sendo esse bem antes. O fim no meio. O fim que dá espaço a outros começos - e outros
possíveis fins. É algo difícil a ser encarado. Todos os planos, promessas e sonhos são cortados de suas raízes abstratas. Essa é a possibilidade
que te poporciona imaginar o que teria acontecido. E se tivesse dado certo? E se continuasse do ponto que parou? E se fosse até o fim?
Não dá pra afirmar com certeza, mas é bem provável que se tornaria a primeira ramificação do ponto mágico. Um círculo que gira cada vez com
menos intensidade. Enfraquecido pelas próprias pessoas que o puseram em movimento.
  Acabei pintando um quadro bastante pessimista, certo? É verdade, mas isso não me deixa menos certo.
Existem ainda outras possibilidades lógicas - bem, lógicas para mim.
  A primeira é um pouco dramática. Meio shakesperiana se preferir. Abraçarem juntos a morte para tonar a chama do amor imortal.
Ao decretar o próprio fim, de uma certa forma, o que foi sempre será. Nenhum acontecimento posterior poderá mudar isso. Estará escrito
no cosmos e permanecerá eternamente apenas sendo.
  A outra possibilidade é não haver uma possibilidade. Simplesmente não existe um casal, uma dupla ou uma parceria. Nada de time.
Aquilo que não tem início nunca terá um fim. É um pouco covarde. Diria que até mais dramática que a anterior, porém válida.
 Então em resumo tem-se:
Completem a corrida e fiquem exaustos, deixem-a inacabada e sintam-se mal, estipulem seu próprio ponto de chegada, não corra.

- E se você apenas aproveitar a companhia? Sem se preocupar com os outros competidores, com a chegada e até mesmo com a própria corrida.
E se não for uma corrida? E se for apenas uma caminhada tranquila na praia? Os pés de ambos descalços enquanto sentem o vento e apreciam a paisagem.
E se bastar apenas um fragmento ínfimo desse momento pra dizer que todos fins prematuros, corridas não realizadas ou completas valeram a pena?
E se você tornar aquele ponto mágico mais mágico? Um ponto especial que existe ao mesmo tempo na largada e na chegada.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

UMA CENA BEM SURPREENDENTE
[toc-toc-toc]
Diego: Quem é?
Daniel: Daniel.
D_ego: E aí cara, beleza?
Dan_el: Tranquilo. Já chegou todo mundo?
D_ego: Não. O Davi tá no quarto colocando a fantasia. Só falta o Doutor.
Dan_el: É. Ele sempre se atrasa. Oh, toma aí as bebidas.
Davi: Bebidas!? Tu sabe que eu num bebo...Mas, e aí como eu tô?
Dani_l: Cara, por que você tá vestido de chapéu?
Dav_: Chapéu, pô. Tem tudo a ver.
Di_go: Qual é, Daniel? Tu sabe que o Davi tem que entrar no clima do filme que a gente vai assistir.
D_niel: Tá, mas ele vai sentar no chão porque isso não vai caber no sofá.
Dieg_: Tá bom. Vou preparar a pipoca enquanto o Doutor não chega.
D_niel: [se joga no sofá e abre uma cerveja] E eu vou relaxar por aqui.
D_vi: Aqui tá maneiro, né?
Dan_el: É. Tá. Olha...David, por que tu ainda não parou com essa mania?
Dav_: Mania? Que mania?
Dani_l: É. Isso.
D_vi: Isso...
D_niel: Esquece. Deixa pra lá.
Dav_: Lá fora tá um tempo sinistroso, né?
Dani_l: Não...Só é noite.
D_vi: Noite é bom.
D_niel: É...
[telefone toca]
Dan_ _l: [atende o telefone] Alô? Fale Doutor! O quê? Um pouco quanto? Sim, sim. Tá bem. Quê? Não, não. Só bebeu treze garrafas até agora. Hahahahahhahaha. Tá, tá. Tchau.
Die_ _: Era o Doutor?
D_ _iel: Era. Ele tá preso com um paciente. Vai atrasar um pouco.
Di_ _o: Como sempre.
Dan_ _l: Acredita que por causa dele eu acostumei a assistir filmes em inglês com legenda em espanhol?
Di_ _o: Acredito que tu é mais é fresco.
_ _niel: Olha lá..
_ _ego: Já bebesse quantas garrafas, hein?
Da_ _el: Meu filho, eu não bebo nenhuma garrafa. Eu só bebo o líquido. Hahahahahahaha.
Da_i: Hahahahahhaha.
D_ _go: Que engraçado. Mas...e aí Daniel, como tá a Deise?
Dani_ _: Ah, velho. [bebe um pouco] Eu não quero falar sobre isso.
Di_ _o: Por que meu irmão?
_ _vi: Irmão. Qual é?
D_ _iel: Tá bom, tá bom. [bebe mais] Ela ainda acha que eu traí ela, mas num é verdade...vocês sabem. [bebe denovo]
Di_ _o: A gente sabe, mas dá pra maneirar na bebida?
Dani_ _: [bebendo] Não enche.
_ _ego: Então, alguém sabe sobre o quê é esse filme?
Daniel: Eu não faço ideia. Era a vez do Doutor escolher. Davi, lê aí a sinpose.
D_ _i: Sinpose: Um filme surpreendente que prenderá você do início ao fim. Numa pequena cidade uma série de crimes ocorrem e a única pista deixada pelo assassino é um chapéu sobre o rosto da vítima. Tenha cuidado, pois o assasino pode estar do seu lado.
Da_ _el: UUUuuuUUUuuUU que medo. Ei, as bebidas esquentaram.
Die_ _: Tem algumas nas geladeira.
_ _niel: Pegue lá.
Di_ _o: Deus lhe deu braços e pernas.
_ _niel: Amém. Deixa que eu pego.
Die_ _: Então, Davi, como tu fez essa fantasia enorme?
Da_ _: Enorme, né? Mas, foi tranquilo. Aproveitei a de maçã do ano passado.
_ _ego: Hum. Vamos ver o que tá passando na TV. [liga a TV]
TV: Isso mesmo. Como vocês podem ver essa é a segunda vítima desta noite e trata-se de um policial. Acredita-se que ele foi estrangulado, provavelmente, uma hora atrás.
Di_ _o: Daniel, corre aqui! Vem ver isso!
D_ _iel: Oi.
TV: A polícia ainda não tem suspeitos. A única pista encontrada foi um chapéu que estava sobre o rosto da vítima. Voltaremos com mais informações em breve. É com vocês do estúdio.
_ _niel: [bebe um pouco] Cara que loucura!
_av_: Loucura mesmo.
_ie_o: Meu Deus! A história do filme...eu não acredito que isso tá acontencendo. Essa rua que apareceu na reportagem é desse bairro!
D_n_el: Então...o assassino tá solto e perto daqui?!
D_e_o: Deus do céu! O Doutor tá vindo pra cá. Liga pra ele. Rápido!
Daniel: [bebendo outra vez] Tá, tá.
[Ligação: tuuu...tuuuu..tuuu...]
_ani_l: Ninguém atende. Só cai na caixa postal!
D_eg_: Oh...
_a_i: Oh...O quê?
D_e_o: A repórter disse que essa é a segunda vítima. E se...
_anie_: Não, cara. Nem pensa nisso. O Doutor tá bem. Ele...ele...só não ouviu o telefone.
[telefone toca]
Dan_e_: Ah! Que susto. Alô? Quê? O que você tá fazendo aqui? Não, não. Eu não quis dizer...É só que...Peraí. Não! Não sai daí. Espera. [desliga o telefone]
Di_g_: Quem era?
_a_ie_: Era a Deise. Ela tá la em baixo na porta. Eu vou lá.
Di_ _ _: Você tá louco? Esse maluco pode tá perto.
D_ _ie_: Por isso mesmo que eu vou. A Deise...Eu não vou demorar.
[sai e fecha a porta]
_ _ _i: Demorar...E se ele demorar, cara?
_ _ _go: Ele não vai. Eu espero. Oh...eu não acredito que isso tá acontecendo. Eu preciso de uma bebida.
_ _ _i: Bebida? Não, nada de bebida. Tu precisa ficar sóbrio. De todos nós tu é o mais equilibrado.
D_ _go: Ah, Ok. Eu só preciso me acalmar. [respira fundo] Peraí. Talvez...se...isso tudo que tá acontecendo for igual ao film... quem sabe no próprio filme não tem alguma resposta.
Da_i: Resposta. Isso mesmo. Vamos ver. Deixa eu só tirar essa fantasia.
D_ego: Tudo bem.
**************************************************************************
_ie_o (falando sozinho): Hum...deixa eu ver...Nossa. Isso é muito estranho. Como que a história do filme que o Doutor...pode tá acontecendo...Não. É muita coincidência. O Doutor ainda não chegou. Ele poderia ter tempo...Será que? Não, não. Mas, se for ele...o Daniel...Eu preciso ir lá em baixo! Mas...a única pessoa que falou com o Doutor foi o próprio Daniel. Poderiam ser uma dupla...Não! Que loucura. Eles são meus amigos! Se bem que...ele disse que era a Deise no telefone, mas poderia ser o Doutor...Porém, o filme só fala de um assassino. Só que eu não vi o filme...a única pista é o chapéu...O Davi tava vestido de chapéu...Poderia ser ele? Ele chegou antes de Daniel, mas teria tempo pra...então ele poderia...todo esse tempo...Não! Isso é loucura.
[toc-toc-toc]
_iego: Ah! Que susto. Quem é?
Deise: Diego? Por favor, abre a porta!
D_ego: [abre a porta] Deise? O que aconteceu? Por que você tá tão agitada?
De_se: O Daniel...ele...ele tá morto!
TAN!
Die_o: O quê?
Dei_e: O Doutor...O Doutor, foi ele.
Dieg_: Mas...por que você tá dizendo isso? O Doutor estava lá?
D_ise: Não, mas o Daniel só falava o nome dele...[chora]
D_ego: Calma Deise. Tinha mais alguém lá em baixo?
Dei_e: Não...Eu...eu não consigo entender...
Da_i: Entender o quê?
Dieg_: Ah! Davi, vem cá. Senta perto da Deise.
Dav_: Deise, o que aconteceu?
_eise: [chora]
_iego: O Daniel tá morto.
_avi: Morto!? Mas...Oh meu Deus!
D_ _go: Calma Davi. Precisamos ficar calmos.
D_ _i: Calmos? Nosso amigo tá morto. Como a gente pode ficar calmo?
Die_ _: Deise, por favor, respira fundo e conta pra gente o que você viu.
Dei_ _: [chorando] Ele tava...descendo as escadas...então...ele caiu e só falava o nome do Doutor. Eu tentei ajudar, mas...ele tá morto. Eu não consigo enteder...[chora mais]
_ _vi: Entender...nem eu consigo entender. O que a gente vai fazer?
D_ _go: Vocês precisam se acalmar.
D_ _i: Acalmar? Cara...então...então me dá essa bebida aí...Eu tô muito nervoso....eu...
Die_ _: Davi, você não bebe. Tem certeza?
Da_ _: Certeza. [bebe]
D_ _se: [chora] A gente precisa ligar pra polícia.
Di_ _o: Sim. Isso mesmo. Temos que ligar pra polícia.
_ _vi: [bebendo] Polícia. É.
Di_ _o: [pega o telefone] Alô? Polícia? Eu quero informar um caso de triplo homicídio qualificado. Na casa 4 em frente ao...isso mesmo. Obrigado.
Dei_ _: Triplo? Como assim?
_ _ego: É Deise. O Daniel, o Davi e você.
D_ _se: O quê?
Die_ _: Sim. Você não estava nos meus planos, assim como aquele policial, mas...precisa morrer.
:O COMO ASSIM? [eu queria poder ver sua cara agora]
D_ _se: Mas...Então foi você quem matou o Daniel?
Die_ _: Sim. Eu matei ele.
_ _ise: Mas...Por quê?
Di_ _o: Pelo mesmo motivo que forjei a traição dele: apenas por diversão.
Dei_ _: Então...Oh! [chora]
_avi: [tosse e passa mal]
De_ _e: Ah! Davi! O que tá acontecendo?
Die_ _: O veneno da bebida está fazendo efeito. Eu planejei matar apenas o Daniel dessa forma. Olha só Davi, eu estava guardando isso aqui pra você. [mostra a arma que estava dentro da caixa do filme]
Dav_: [passa mal]
D_ _se: Seu monstro!
_ _ego: Ora, nem é pra tanto.
_ _ _se: Oh...Davi?...Ele...
Di_ _ _: Bom. E agora chegou sua vez. [engatilha a arma]
D_ _ _e: [corre e apaga a luz]
_ _ _go: Desgraçada!
[som de briga corporal]
[tiro]
[Ligação: tuuu...tuuuu..tuuu...]

D_ _ _ _: Alô? Polícia?

domingo, 26 de junho de 2016

A MELHOR CENA ESCRITA ATÉ O MOMENTO

JUÍZA: Vamos agora para o caso 2356. O marido acusa a mulher de infidelidade. Peço ao júri que acompanhem atentamente para votação posterior.
Com a palavra a parte acusadora:
Advogado do Marido (AdM): Meretíssima. [faz uma reverência], senhores e senhoras do júri [outra reverência]. Como todos devem saber o casamento é um contrato entre o marido e a esposa. E se me premitem ressaltar: um contrato sagrado, pois duas almas firmam um acordo. E muito mais que isso: firmam uma união por toda a vida perante Deus.
[o júri se manifesta positivamente]
Uma UNIÃO que, para manter-se sólida, necessita de confiança, respeito, fidelidade. Sendo está última, caros companheiros, não foi; eu repito: não foi honrada por parte daquela mulher que não merece ser nomeada de esposa [aponta dramaticamente o dedo acusador para a esposa].
Esposa: [chora]
AdM: Ora não me venha com essas lágrimas! Lágrimas de um criminoso! Um criminoso que será finalmente desmascarado.
[tumulto no júri; pessoas cochichando; a juíza bate o martelo]
JUÍZA: Silêncio! Silêncio! Ordem [dirigi-se para o advogado de acusção] A parte acusadora possui alguma prova?
AdM: Claro meretíssima! Temos aqui foto, gravação de ligações e um filme.
JUÍZA: Bom. Então vejamos essas provas.
AdM: Aqui está a prova A. Esse retrato foi encontrado na gaveta da esposa!
JUÍZA: Mas..
AdM: Alguma coisa errada, juíza?
JUÍZA: Não. Eu só achei que nessa foto estaria registrado o flagrante de um delito ou algo do gênero..
AdM: Mas o pior ainda está por vir! Apresento-lhes a prova de número B!
JUÍZA: Mas B não é um número.
AdM: É sim meretíssima! É o número da B-esta. O número que ela ligou às seis horas do dia seis de junho! Esse número pertence ao amante. Ouçam:
LIGAÇÃO: tuuuuu..tuuuuu..Atende por favor. tuuuuu...
AdM: Ouviram? Esse é o som da traição! O som do pe-ca-do.
JUÍZA: Mas não existe nenhum diálogo comprometedor nessa gravação.
AdM: [pulando ensandecidamente] Só que agora nós iremos para a prova C. C de covardia. C de castigo. C de culpa. A culpa que essa mulher deveria sentir por fazer isso. [aperta o play do vídeo]
[o vídeo mostra a mulher na cozinha chorando]
Advogado do Esposa (AdE): Meretíssima, protesto! Tenha santa paciência. Essas “provas” – se é que se podem chamar assim – não provam nada!
JUÍZA: Aceito. É...a parte acusadora tem alguma testemunha?
AdM: Claro, juíza. Chamo agora o corn..o marido!
[o júri cochicha]
JUÍZA: Ordem! Ordem! Por favor. Ordem [bate com o martelo]
AdM: O senhor jura dizer a verdade, somente a verdade, nada além da verdade mesmo que seja mentira?
Marido: Como?
AdM: À vontade. Digo.. verdade. Somente a verdade?
Marido: Claro
AdM: Onde o senhor estava às onze horas do dia de hoje?
Marido: Aqui no tribunal. São 11:15 agora.
AdM: Por favor, atenha-se à pergunta e somente a ela.
Marido: Tudo bem.
AdM: Qual o tipo de ligação que você tem com aquela mulher?
Marido: É...É minha esposa, mas o senhor já sabe disso.
AdM: Senhor, por favor, apenas responda a pergunta.
Marido: Tudo bem. Mas...
AdM: Quando o senhor descobriu que ela estava lhe traindo?
Marido: Mas eu não...
AdM: Com quantos homens ela esteve?
Marido: Bem...
AdM: É verdade que numa floresta o senhor seria o alce-chefe? Supondo que três homens vão à sua casa por dia; dentro de um mês...
AdE: Protesto! O que isso significa?
[o júri, mais uma vez, cochicha]
JUÍZA: Ordem! Ordem! Advogado, faça uma pergunta por vez.
AdM: Perdão meretíssima. É que certas coisas me deixam nervoso. Quando vejo um caso desses eu fico..[respira de forma cansada]
JUÍZA: Prossiga.
AdM: Então. Conte exatamente o que aconteceu no dia em que você descobriu que sua mulher estava lhe traindo.
Marido: Bom..foi a um mês. Eu estava voltando do trabalho pra casa.
AdM: Cansado. Com toda a certeza, num é verdade? Por ter de sustentar a mulher e a casa. É realmente desgastante.
Marido: Na verdade ela também trabalha. Nós dividimos as contas da casa.
AdM: Ah... Correto. Correto. Continue.
Marido: Então eu cheguei em casa e ela não havia chegado.
AdM: Absurdo! Amigos do júri, por favor, o desenho do crime está sendo construído diante de nossos olhos. Tarde da noite! E a esposa ainda não havia chegado. Foram essas as palavras.
Marido: É...ela não tinha chegado porque trabalha à noite.
AdM: Ah! Com certeza. Prossiga.
Marido: Então uns trinta minutos depois ela chegou – como era esperado – mas veio acompanhada de um homem.
AdM: Meu Deus do Céu! Não fale mais nada! Alguém chame um guarda para prender essa criminosa!
AdE: Protesto! Ele está xingando minha cliente!
JUÍZA: Aceito. Advogado, modere suas palavras.
AdM: Perdoe-me meretíssima, mas eu não consigo me calar ante tal atrocidade.
[o júri mais uma vez só no burburinho]
JUÍZA: Um momento! Um momento! Ordem. Prossigamos com o testemunho.
Marido: Bem..o homem que estava no carro era o pai dela que veio passar o fim de semana conosco.
AdM: Bem..É..Sim..Mas é claro. Evidente. Continue. Pode continuar.
Marido: Então no outro dia, por acaso, achei esse retrato na gaveta dela. Eu não sabia o que fazer então falei com o Senhor.
AdM: Com Deus?
Marido: Não. Eu falei com o senhor. Eu lhe chamei e pedi ajuda.
AdM: Ah! Sim Claro.
Marido: Tivemos uma conversa e o senhor me disse para aguardar um pouco...para apurar fatos. E na semana seguinte recebi um telefonema anônimo dizendo que minha mulher estava tendo um caso.
AdM: Um telefonema anônimo! Isso esclarece tudo. Sem mais perguntas.
AdE: Protesto!
AdM: Mas você só sabe falar isso? Quem foi que escreveu sua fala?
AdE: [pigarreia] Um momento. Isso não esclarece nada. Quem deu esse telefonema? E por quê?
[júri alvoroçado]
JUÍZA: Ordem. Ordem. A parte da defesa tem a palavra. [bate com o martelo]
AdE: Obrigado meretíssima. Eu chamo ao banco a esposa. Jura dizer a verdade, somente a verdade nada além da verdade até que a morte os separe?
Esposa: Como?
AdE: Claro. É...a verdade. Jura dizer a verdade?
Esposa: Juro.
AdE: Sejamos direto. A senhora traiu o seu marido?
Esposa: Não. Nunca.
AdM: Ah! Por favor! Precisamos de alguém que fale a verdade aqui. Eu me chamo para testemunhar. Onde eu estava na noite de quinta-feira às onze e meia da noite da última semana? Ah meu Deus! Eu não lembro! Lembre desgraçado! Eu protesto! Negado!
[júri mais uma vez avexado que só a muléstia dos cachorro doido]
JUÍZA: Ordem! Ordem no tribunal! [bate com o martelo] Senhor advogado, componha-se. Isso aqui não é nenhum circo. Advogado de defesa, continue.
AdE: Pois bem. Senhora, de acordo com as “provas” anteriormente apresentadas vamos esclarecer alguns pontos: quem é essa pessoa no retrato?
Esposa: É alguém que eu conheço.
AdE: Mas quem é?
Esposa: [chorando] Eu não posso.
AdE: Minha senhora, por favor. Precisamos esclarecer algumas coisas aqui. Por que a senhora estava chorando naquele vídeo?
Esposa: [chora mais]
AdE: Pra quem a senhora tentava ligar naquele momento?
Esposa: Ah! Meu Deus eu não posso...
AdE: Não pode o quê?
Esposa: [chora mais como se não houvesse amanhã]
AdE: Meretíssima, minha cliente não tem condições de continuar. Eu peço uma pausa.
AdM: Protesto!
JUÍZA: Essa fala é do outro..quero dizer. Negado. Vamos fazer um intervalo. Dentro de quinze minutos voltamos.

JUÍZA: Pois bem. O advogado vai continuar com o testemunho da esposa?
AdE: Não meretíssima. Acabei de receber essa pasta sem remetente. É...Então eu chamo agora: o marido.
JUÍZA: Aproxime-se
AdE: Jura dizer a verdade?
Marido: Somente a verdade, nada além da verdade?
AdE: Juro. Quero dizer...isso mesmo. Você jura?
Marido: Juro.
AdE: Ótimo. Então o senhor trabalha?
Marido: Sim, mas o senhor já sabe disso.
AdE: Por favor, atenha-se à pergunta e somente a ela.
Marido: Tudo bem.
AdE: Que tipo de trabalho?
Marido: Fotógrafo. Mas o que isso...
AdE: Senhor, por favor, apenas responda a pergunta.
Marido: Tudo bem. Mas...
AdE: E é fotógrafo de modelos, certo?
Marido: Sim...
AdE: E são belas mulheres. Como essa loira da foto, ou essa ruiva e que tal essa morena? [fala enquanto joga fotos de mulheres na mesa]
Marido: Eu não estou entendendo.
AdE: Não está entendendo?! O senhor conhece essas mulheres, correto?
Marido: Sim..
AdE: E não é verdade que o senhor teve caso com todas elas?!
[o júri se espanta; uma mulher desmaia; a esposa chora]
AdE: Temos a prova A, prova de número B e a prova C de culpa! Está tudo aqui! Fotos, gravação de ligações e filme!
[o júri cohicha; a esposa chora]
JUÍZA: Ordem no tribunal! Ordem! [bate com o martelo]
AdM: Meretíssima, eu protesto!
JUÍZA: Não sei sobre o quê o senhor protesta, pois todas essas provas são legítimas.
AdM: Minha cara juíza. Pessoas do júri. Tudo bem, tudo bem. É verdade que meu cliente traiu 15 ou mais vezes sua esposa? Sim. É verdade. Mas essa não é a questão!
AdE: Como assim essa não é a questão? É claro que essa é a questão!
AdM: Errado! Estamos aqui para julgar o ato de infedilidade daquela mulher! [novamente aponta o dedo dramaticamente para a esposa]
AdE: O infiel é o marido!
AdM: Ora! Tenha santa paciência senhor advogado. Todos sabemos que transar com outra pessoa, enquanto casado, não é infidelidade.
AdE: Mas é claro que é!
AdM: Não. Não é. A traição está nos sentimentos. Os casos que o marido teve foram motivados apenas por atração física e não passaram de uma noite. Era puro e simples desejo carnal. Entretanto, a esposa claramente estabeleceu uma ligação sentimental com outra pessoa, o que afeta a estrutura da relação matrimonial.
[cochicho no júri]
AdE: Mas isso é um absurdo sem tamanho. Traição é traição. (Romance é romance, amor é amor e um lance é um lance (8 ). Não importa o nível!
[cochicho não para]
JUÍZA: Ordem! Ordem e progress..Ou melhor: Ordem! Bom, eu sinceramente não sei como continuar, pois...
Esposa: Mas eu sei. Diante desses fatos não é necessário esconder mais nada. Vou contar tudo.
[e o júri se espanta]
JUÍZA: Muito bem então. A senhora jura dizer a verdade e blá blá blá?
Esposa: Eu juro. [suspira fundo] Quando cheguei em casa acompanhada do meu pai, tinha uma coisa muita importante pra dizer ao meu marido. Meu pai não foi apenas nos visitar, ele ia me apoiar nessa tarefa; mas eu não consegui. Passou o fim de semana e nos dias que se seguiram eu estava muito angustiada. Eu precisava revelar esse segredo. Liguei para o meu pai, mas ele não estava. Passei um tempo chorando na cozinha depois que recebi a notícia que tinha que vir ao tribunal, pois meu marido desconfiava que eu o traía. Pensei em dizer tudo naquele momento, mas fui fraca. Só que agora...depois disso tudo; eu estou pronta. A verdade (João Kléber) é que...

eu era homem.
TAN! :O [AiMeuDeusDoCéu!!!! Quem escreveu isso???? AAAAAAAAAAAAAA]
[zuada]
Marido: O QUÊ?!
AdM: [Vomita]
JUÍZA: Ordem! Ordem c@rAlh0! Biziu, biziu...
-SILÊNCIO-
Marido: Mas como assim?
Esposa: Sim. É verdade. Sou eu nesse retrato, antes de...Bom. Meu pai sabia...então...eu ia te contar. É isso.
Marido: Mas..Mas...
JUÍZA: Certo. Isso foi bem...chocante. Provavelmente eu não vou dormir hoje... Éééé..Os advogados têm alguma coisa a acrescentar? Não? Então ...caso encerrado. [bate com o martelo].
Marido: Mas...Mas... [em estado de choque]
AdE: Mas...ficamos sem saber quem deu o telefonema anônimo e quem deixou essa pasta com provas contra o marido aqui.
AdM: É. Ficamos. E nunca vamos saber...nunca...

segunda-feira, 20 de junho de 2016

SALVO


Quanta areia precisará escorrer para você perceber que eu preciso ser salvo? Não me torne um alvo para suas mentiras, desculpas e traições Essas objeções transformam emoções em algo caricato Barato, inato, sem tato pelo simples fato de que eu preciso ser salvo O som se choca com a boca torta do dia Onde antes havia dor e sorte Agora só resta um forte desejo de ser salvo Um causo sem porquê Será que você não vê que eu quero ser salvo? Tá vendo a mancha de álcool no chão onde ele costumava ficar? Não há lugar longe o suficiente para me afastar E tentar me tornar uma pessoa diferente do que ele foi Pois apesar de dizer não Eu sou sim Um espelho refletindo a vergonha de quem sonha Mas não alcança e se cansa ainda quero ser salvo Tatuo tua triste testa temporária com amor Mas por favor Não demore ou quer que eu implore para ser salvo? Compara o momento anterior com o agora E chora comigo, pois preciso de abrigo Nesse mundo imundo Já estou farto de sentir asco e medo do que é importante Só basta um instante para você me salvar E acabar com esse sentimento de pertencimento ao sofrimento Constante e pulsante que permanece e floresce Nas trevas do meu ser Não é possível que você não enxergue Olhe pra mim e carregue esse fardo incômodo e pesado Acho que você não vê que eu preciso ser salvo Ao afundar em minhas palavras reconheci que ninguém me conhece Você não me merece Esquece tudo Estou de luto Não há fruto em uma árvore seca Apenas veja minhas mãos e sinta a dor do meu coração A verdade é que revelou-se ao acaso que eu não posso ser salvo Estou caindo e gostando disso Estou te perdendo e gostando disso Estou rachado e já não me importa como serei achado Os cacos mostram você, mas não quero ver Não é difícil perceber que eu não posso ser salvo Hey! Não chore Era isso que eu queria Nessa fria existência extensa Você pensa que eu poderia ter sido salvo Ou algo assim nunca ocorre para quem só corre e foge? Enfim, enfia fundo essa faca afiada a fim de foder o resto da minha fé Aqui de pé me tornei uma mancha Que dança sozinha, contida e escondida Desse mundo imundo Não me limpe Não ficarei alvo Sou apenas algo que não quer ser salvo

segunda-feira, 13 de junho de 2016

   

2002



   Vou falar sobre o ano de 2002. Esse ano do qual lembro pouco, mas considero pacas. Foi um ano realmente interessante. É possível afirmar que foi decepcionante para alguns e maravilhoso para outros? Sim. Muito fácil afirmar isso. Difícil é encontrar um ano em que tantos fatos tenham relação direta com o número dois.
Seria coincidência? Obra do destino? Ou apenas a extrapolação da loucura desse que vos escreve?
Acompanhe.
   A indústria cinematográfica hollywoodiana produz centenas de filmes todos os anos. Isso é de conhecimento geral. E muitos sabem também que sequências, remakes, reboots, têm cada vez mais espaço nas telonas. E é espantoso observar a quantidade de continuações lançadas no ano de 2002.
   As crianças puderam se divertir com 'Pequenos Espiões 2: A Ilha dos Sonhos Perdidos' e 'O Pequeno Stuart Little 2'.
Muita gente curtiu rever Will Smith e Wesley Snipes em 'MIB - Homens de Preto II' e 'Blade II' respectivamente.
Fascinante não é mesmo? Só que ainda tem mais.
  Uma franquia que possui magia, fantasia e aventura também teve continuação em 2002. Na verdade não uma; três.
'O Senhor dos Anéis: As Duas Torres', 'Harry Potter e a Câmara Secreta' e 'Star Wars Episódio II: O Ataque dos Clones' foram sucesso de bilheteria. Esses filmes trouxeram novos personagens e um desejo de quero mais.
O que é desafiante para uma continuação. Ela precisa manter a essência do seu antecessor e ao mesmo tempo não se deixar cair na mesmice.
  Fomos agraciados ainda com o filme 'Dragão Vermelho' com Anthony Hopkins retornando ao papel do psicopata Hannibal Lecter. Sendo que essa foi a segunda adaptação do livro homônimo de Thomas Harris. E coincidentemente também foi o segundo livro do escritor.
A primeira adaptação chama-se 'Manhunter' (1986) e conta com William Petersen no papel de Will Graham. Esse mesmo Petersen que é lembrado por ser o Grissom de CSI.
Série essa que acompanhava o trabalho dos cientistas do 2º maior laboratório de criminalística de Las Vegas.
Eu sei. Chocante.
   E ainda tiveram a ousadia de lançar '007 - Um Novo Dia para Morrer', que é o 20º filme da franquia e o quarto e último de Pierce Brosnan. Analisando bem, é possível perceber que 20 e 4 são múltiplos de...? Isso mesmo. Os fatos estão aí. Só não enxerga quem não quer.
   O Brasil também produz filmes, mas nenhum título exibido no ano provocaria tanto impacto quanto a notícia de que foram apresentados dois BBBs em 2002.
   O 'Big Brother Brasil 1' foi de 29 de janeiro até 2 de abril. E o 'Big Brother Brasil 2' iniciou em 14 de maio e encerrou-se em 23 de julho.
Essa gana de empurrar duas edições, em um mesmo ano, só pode ser explicada como uma tentativa de superar o sucesso estrondoso da 'Casa dos Artistas' (vulgo melhor reality show já feito).
   Os acontecimentos esportivos também não ficaram de fora dessa energia binária invisível. Algumas das principais manchetes foram:
'A seleção brasileira vence a Alemanha na final com dois gols de Ronaldo'. (Bem antes do fatídico 7 x 1).
'Rubens Barrichello torna-se vice-campeão de Fórmula 1'. (Piada pronta, porém inevitável).
'O Corinthians se consagra Bicampeão da Copa do Brasil'. (A situação começa há ficar um pouco incômoda).
'O campeão do mundo de xadrez, Vladimir Kramnik, empata com o programa de computador Deep Fritz'. (O que isso tem a ver? Não sei. Mas a palavra chave aqui é empate).
Muitos fatos passaram despercebidos, mas olhando em retrocesso é bem assustador.
   Observe agora como a dualidade estava presente até na vida e na morte:
'22 de Maio nasce Maisa da Silva Andrade'.
'No mesmo ano, Suzane Von Richthofen abriu a porta da mansão para os irmãos Cravinho'.
   Como é possível que o número dois possa estar tão presente assim?
   Veja mais dois exemplos extraídos direto do cenário musical brasileiro:
'Cláudio Rodrigues de Mattos que fazia dupla com Buchecha faleceu em julho'.
'O grupo Rouge foi formado em 2002'.
   E agora uma breve explanação:
   Claudinho e Buchecha formavam uma dupla, portanto encaixa-se na teoria do ano. O Rouge tinha cinco integrantes, o que contradiz tudo o que disse até agora. Entretanto, poucos se recordam que Luciana deixou o grupo em 2004. Ou seja, dois anos depois da formação o grupo ficou com quatro belas integrantes.
   E por falar em belas mulheres, a Playboy lançou edições maravilhosas no ano de 2002.
   Como parte da pesquisa, é claro, tive que analisar minuciosamente todas as páginas. Detendo-me nas matérias e entrevistas realizadas na época.
   Joana Prado apareceu mais uma vez na revista em Janeiro. Embora a edição de 1999 continue sendo a mais vendida é sempre interessante rever de outra maneira.
   Além de Sheila Mello e Deborah Secco, no mesmo ano, mais precisamente em Dezembro, fomos agraciados com o melhor par de seios de todas as publicações: Kelly Key.
   Essa edição alcançou o posto de 4ª publicação mais vendida e deu à cantora o 2º maior cachê da história da revista no Brasil.
Ela que consegui emplacar dois sucessos nas rádios de todo o país - Baba e Cachorrinho.
   E sabe quais outros dois sucessos internacionais foram lançados em 2002?
   Surpreenda-se com a ironia:
   Enquanto Justin Timberlake pedia 'Cry Me A River' o Oasis dizia 'Stop Crying You Heart'.
   Pode parecer obra do acaso, mas com tudo o que já foi visto aqui não dá mais para ignorar.
   Eu vou encerrar aqui porque tudo está muito claro.
   E sabe o que é mais curioso?
   Esse texto tem exatamente duas mil e duas palavras. 
   Ou quase isso.

terça-feira, 7 de junho de 2016

CLARA  



Foram palavras tão afiadas que rasgaram completamente minha alma. Essa é a maneira mais sincera de descrever o que
se passou naqueles instantes. É até curioso como chegamos naquele momento. Não houve uma briga de casal.
Não existia nenhuma bolinha de conflito que foi se transformando em uma avalanche de gritos e palavras antes
nunca ditas. E que nunca deveriam ser ditas.
Nada disso aconteceu.
  Realmente não sei o que houve. Estávamos tão apaixonadas. Bom, da minha parte tenho certeza. Embora ache que
não seja possível emular amor de forma tão convincente. Ou talvez seja apenas ingênua mesmo. Não estou me
declarando uma vítima completa aqui. Longe disso. Quando ainda era humana cometi vários erros.
E observando a situação até certo ponto tenho plena certeza que foi um erro me envolver com Clara.
Apesar do nome ela mostrou-se bastante opaca - Sim, eu possuo um senso de humor bastante peculiar. Diria
até que são para poucos.
  Nos conhecemos através de amigos em comum e acabamos nos tornando bastante próximas. Éramos amigas que contavam
tudo uma para a outra. Que chorava junto na tristeza. E que ficava mais feliz pelo sucesso da outra do que o seu.
Nunca pensei que encontraria uma pessoa que me incitasse sentimentos tão agradáveis e momentos tão prazerosos.
Portanto, foi uma passagem bastante natural de abraços de despedidas a longos beijos demorados de reencontro.
Eu me sentia completa.
  E esse foi o meu maior erro - Logo depois de atravessar uma avenida com os olhos no celular, mas chego
já nesse ponto. Eu estava viva, mas dependia de outra pessoa para essa vida fazer sentido.
Agora enxero isso claramente - Olha só. Fiz de novo. Bem na sua cara.
  Embora eu perceba isso. Percebo também que ainda a amo muito. Daquele amor que dói, literalmente, na alma.
Porque amar machuca. E provoca feridas que são difíceis de curar. Mesmo depois da morte.
Pois é. Eu morri.
  Estou escrevendo isso do além. Bem assustador, né?
Mas se você quer saber mesmo: é bem mais chato do que aterrorizante. Não tem absolutamente nada para se fazer aqui.
Por isso que resolvi escrever. Só não sei ainda como vou publicar.
Talvez encontre algum médium ou possua uma caneta... - Apenas brincadeira.
...
  Eu voltei. Por mais incrível que isso possa parecer. Não adianta perguntar porque eu não sei como. Sei apenas que ninguém
nota minha presença e que adquiri um conhecimento extraordinário de informática e biologia.
O ácido desoxirribonucleico, bem como o protocolo kerberos nunca fez tanto sentido pra mim.
  Ao que tudo indica voltei para concluir um assunto inacabado - Não. Eu não voltei para puxar o pé de ninguém enquanto dorme.
E antes de voltar para o descanso eterno resolvi continuar escrevendo essas memórias póstumas.
Então vamos aos acontecimentos.
  Era um fim de tarde de outubro. Dia 17 para ser mais precisa. Tínhamos combinado de assistir um filme na casa dela.
O cenário estava perfeito: um filme de karatê mal dublado, pipoca velha e o som estridente do vizinho do lado.
Mas estava nos braços da Clara e isso era mais que perfeito.
  Porém percebi que não tinha muita conversa. Ela não costumava atrapalhar a sessão, mas sempre fazia comentários
engraçados - Um humor melhor que o meu. Vale ressaltar aqui. E não rolou uma mãozinha boba. Sempre me sentia atacada por
um polvo - De uma maneira boa, é claro. Se é que existe um lado bom nisso...
Ela apenas afagava meu cabelo de maneira mecânica. Eu sentia que ela não estava ali completamente.
  Após o filme fomos para a cama e foi a noite mais incrível que passamos juntas. Ela tinha se transformado numa labareda
de paixão e luxúria. Bem diferente da pedra de mármore de minutos antes. Ficamos exaustas e dormimos rápido.
Quando acordei, Clara já estava vestida e disse que tinha um compromisso no trabalho e só poderíamos nos ver no dia seguinte.
Eu detestava ficar sem vê-la. Mesmo que fosse só por um dia. E mais ainda quando ela aparentava essa indiferença.
Como se para ela estivesse tudo bem. Um dia, dois ou três semanas sem nos vermos... - Exagerada eu? Claro que não!
Apenas louca de amor.
  Quando cheguei em casa estava com um misto de alegria e tristeza. É difícil explicar. E sem falar nessa sensação que
me rondava. Agora tenho certeza do que era isso: o hálito da morte - Tentei ser tenebrosa e consegui apenas ser brega.
  O dia demorava a passar. Nem prestava atenção na rotina de tão rotineira que era. Queria apenas encontrar com Clara
no dia seguinte e dizer que a amava muito. Ela já sabia disso, mas ainda assim sentia que precisava dizer isso a ela.
Precisava tanto que mandei uma mensagem logo antes de me deitar.
  É ótimo acordar com uma mensagem desse tipo, não é?
E sabe que tipo de mensagem não é legal de se receber assim que acorda?
"Precisamos terminar"
  Selecione as letras certas, forme as sílabas corretamente e você obterá frases que são como facas banhadas em lava e veneno.
"Como assim?"
"Estou com outra. Adeus."
  Já havia ficada sem reação diversas vezes. Momentos constrangedores, situações inusitadas e até ocasiões perigosas. Mas ali
eu fiquei sem nada. Completamente. Posso dizer que a primeira vez que morri foi naquele instante. Não tinha forças nem para teclar.
  Após um bom tempo imóvel consegui ligar, mas ela já não me atendia. Enviei uma nova mensagem.
"Estou indo para a sua casa. Vamos conversar."
Fui novamente ignorada.
  Eram golpes terríveis que eu estava recebendo. E doíam mil vezes mais, pois estavam sendo dados por uma pessoa que eu amava 
mais do que um milhão de vezes.
  Me vesti rápido e ainda na saída de casa enviei minha última mensagem. Eu ia dizer que foi sem pensar, mas na verdade foi sem
orgulho, sem egoísmo, sem raiva. Foi um minúsculo espaço de tempo onde eu me sentia livre de qualquer influência ou sensação - Vide
hálito da morte.
E sem pensar enviei:
"Precisamos ficar juntas"
  Enquanto aguardava uma improvável resposta, andava apressada e tropeçava na vida das outras pessoas. Desastrada por natureza, privar-me
voluntariamente de um sentido tão importante, como a visão, não foi uma decisão muito esperta.
Andava seguramente na faixa de pedestres enquanto olhava fixamente para a tela em minhas mãos. Por isso não notei a luz vermelha insistente
proibindo a passagem.
  Antes de desmaiar consegui ouvir o som de algo se esfacelando. Ainda não sei ao certo o que era. Não importa. A única coisa que sei é
 que vi com clareza - Esse foi sem querer - um alerta de mensagem recebida.
Clara tinha respondido tarde demais.
  Chegamos então ao assunto inacabado. Aparentemente muitos espíritos voltam à terra para resolver assuntos pendentes.
Muitos estão furiosos, outros assustados e alguns apaixonados. Esses últimos são os mais perigosos.
  Conseguir achar o celular não foi fácil. Tentei o hospital, minha casa, o necrotério. Nada.
Pensei que ele poderia ter sido roubado. Fui em todas as casas da cidade. Sério. Vi coisas que nenhuma fantasma
deveria ver.
Só evitei uma casa.
Não queria vê-la naquele momento. Porém minha curiosidade venceu minha atitude reticente.
  O aparelho estava em cima da cama. Várias baterias, carregadores e cabos estavam espalhados no colchão.
Ele estava bastante danificado. Tela rachada, amassados e ranhuras. O pacote completo de estragos. Igual a mim - Humor estranho. Eu sei.
Foi fácil ligá-lo porque como já havia dito: especialista em natureza e tecnologia.
E lá estava a última mensagem recebida:
"Precisamos ficar juntas"
"Quem sabe numa próxima vida"
...
  Eu tentei ficar furiosa, mas não conseguia. Estava amando-a mais. Era como se eu soubesse de algo que ainda fosse saber.
Bem difícil de entender. Mai difícil do que o complexo de golgi ou iptables.
Olhei ao redor e vi que o quarto estava um pouco vazio. Na verdade a casa toda. Só que não era um vazio de mudança.
Era um vazio de vida.
Imediatamente fui encontrá-la.
Novamente. Não sabia onde ela estava, mas sabia como chegar até ela.
  Haviam se passado apenas três meses desde que morri, mas ela já estava sem nenhum fio de cabelo e com menos da metade
do peso original. Os olhos fundos e a expressão cansada não lembrava em nada a pessoa deslumbrante que eu conheci.
Escutei os médicos dizendo que ela não estava lutando. Desistiu antes mesmo de dar entrada.
Bisbilhotando bastante, achei documentos que informavam a data da primeira consulta. 17 de outubro.
  Entrei no quarto e ela sorriu. Um sorriso tímido de canto de boca. Mas ainda assim foi o sorriso mais deslumbrante que 
jamais tinha visto. Sentei-me na beirada da cama pra escrever essas linhas finais enquanto espero minha Clara.

terça-feira, 17 de maio de 2016

A PINTA


   
   Hoje eu reparei que havia uma pinta no meu dedo. Uma mancha surgiu onde antes era apenas pele. Achei aquilo bastante curioso. E agindo racionalmente e logicamente como toda pessoa racional e lógica age, pensei que iria morrer. Não que estava morrendo. E sim que já iria morrer de fato. Seriam apenas questão de horas para aquele sinal se espalhar e consumir completamente meu corpo. Porque afinal é muito comum disso acontecer. Há diversos casos comprovados cientificamente, milhões de estudos e excelentes filmes trash de ficção científica sobre o assunto.
   Tudo bem. Não pensei exatamente que eram meus últimos momentos, mas confesso que bateu uma certa aflição. Mudanças corporais geralmente não representam algo positivo. Com o passar do tempo a pele vai perdendo elasticidade, os cabelos vão rareando, as juntas endurecendo. E quando tudo isso acontece a gente vira outra gente. Uma gente diferente estetica e psicologicamente.
   Não estou afirmando que todas as mudanças que ocorrem são ruins, mas que só consegui lembrar das ruins. Eu mesmo já posso adicionar pintas na minha lista de “acréscimos diferencias adquiridos ao longo de uma existência terrena”. Ou, “detalhes que terei quando for mais velho”.
   Já deu pra perceber que aquela mancha no indicador me fez pensar bastante, né? Uma coisa tão pequena e que passa despercebida atingiu um destaque enorme em minha discreta vida.
   Mas após muito pensar, deliberar, especular, raciocinar, cheguei à incrível nenhuma conclusão. Porque não havia algo a ser concluído. Todos os meus medos, receios e angústias criados devido ao surgimento da pinta, eram apenas isso: medos, receios e angústias criados por mim.
   Nada do que eu imaginei obrigatoriamente se tornaria real. A única coisa real era a pinta. E ela surgiu sem eu precisar imaginar. Simplesmente estava lá. Pequena e real. Eu poderia encarar isso como um problemão ou um problema do tamanho de uma pinta. E foi dessa última forma que eu agi. Até ver a outra pinta no pulso.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

PÍLULA SOCIAL

- Eu te amo.
- [visualizada]
- [espera]
- Janela errada?
- HAHAHAHAHA É isso que eu gosto em você.
- O quê?
- Seu humor. E também seu jeito descontraído e único.
- Você nunca tinha me digitado isso antes.
- É que faltava coragem e sobrava vergonha.
- E o que mudou?
- As circunstâncias. Percebi que não posso deixar oportunidades passarem. A pior coisa que podemos acumular são arrependimentos.
- Ou doenças.
- HAHAHAHAHA Para. Eu estou falando sério.
- Eu sei. Mas você não acha que os arrependimentos fortalecem nosso senso de decisão? Se não tivermos uma base, da qual possamos nos servir, vamos sempre achar que todas as escolhas são certas, inclusive as erradas.
- Mas quem define que essas escolhas são erradas?
- Qualquer um que tenha arrependimentos.
- Às vezes acho que você gosta de discordar de mim.
- Às vezes eu me arrependo disso.  :)Emoticon grin

- HAHAHAHAHA
- Então...Janela errada?
- Sim.



 MAX