domingo, 26 de junho de 2016

A MELHOR CENA ESCRITA ATÉ O MOMENTO

JUÍZA: Vamos agora para o caso 2356. O marido acusa a mulher de infidelidade. Peço ao júri que acompanhem atentamente para votação posterior.
Com a palavra a parte acusadora:
Advogado do Marido (AdM): Meretíssima. [faz uma reverência], senhores e senhoras do júri [outra reverência]. Como todos devem saber o casamento é um contrato entre o marido e a esposa. E se me premitem ressaltar: um contrato sagrado, pois duas almas firmam um acordo. E muito mais que isso: firmam uma união por toda a vida perante Deus.
[o júri se manifesta positivamente]
Uma UNIÃO que, para manter-se sólida, necessita de confiança, respeito, fidelidade. Sendo está última, caros companheiros, não foi; eu repito: não foi honrada por parte daquela mulher que não merece ser nomeada de esposa [aponta dramaticamente o dedo acusador para a esposa].
Esposa: [chora]
AdM: Ora não me venha com essas lágrimas! Lágrimas de um criminoso! Um criminoso que será finalmente desmascarado.
[tumulto no júri; pessoas cochichando; a juíza bate o martelo]
JUÍZA: Silêncio! Silêncio! Ordem [dirigi-se para o advogado de acusção] A parte acusadora possui alguma prova?
AdM: Claro meretíssima! Temos aqui foto, gravação de ligações e um filme.
JUÍZA: Bom. Então vejamos essas provas.
AdM: Aqui está a prova A. Esse retrato foi encontrado na gaveta da esposa!
JUÍZA: Mas..
AdM: Alguma coisa errada, juíza?
JUÍZA: Não. Eu só achei que nessa foto estaria registrado o flagrante de um delito ou algo do gênero..
AdM: Mas o pior ainda está por vir! Apresento-lhes a prova de número B!
JUÍZA: Mas B não é um número.
AdM: É sim meretíssima! É o número da B-esta. O número que ela ligou às seis horas do dia seis de junho! Esse número pertence ao amante. Ouçam:
LIGAÇÃO: tuuuuu..tuuuuu..Atende por favor. tuuuuu...
AdM: Ouviram? Esse é o som da traição! O som do pe-ca-do.
JUÍZA: Mas não existe nenhum diálogo comprometedor nessa gravação.
AdM: [pulando ensandecidamente] Só que agora nós iremos para a prova C. C de covardia. C de castigo. C de culpa. A culpa que essa mulher deveria sentir por fazer isso. [aperta o play do vídeo]
[o vídeo mostra a mulher na cozinha chorando]
Advogado do Esposa (AdE): Meretíssima, protesto! Tenha santa paciência. Essas “provas” – se é que se podem chamar assim – não provam nada!
JUÍZA: Aceito. É...a parte acusadora tem alguma testemunha?
AdM: Claro, juíza. Chamo agora o corn..o marido!
[o júri cochicha]
JUÍZA: Ordem! Ordem! Por favor. Ordem [bate com o martelo]
AdM: O senhor jura dizer a verdade, somente a verdade, nada além da verdade mesmo que seja mentira?
Marido: Como?
AdM: À vontade. Digo.. verdade. Somente a verdade?
Marido: Claro
AdM: Onde o senhor estava às onze horas do dia de hoje?
Marido: Aqui no tribunal. São 11:15 agora.
AdM: Por favor, atenha-se à pergunta e somente a ela.
Marido: Tudo bem.
AdM: Qual o tipo de ligação que você tem com aquela mulher?
Marido: É...É minha esposa, mas o senhor já sabe disso.
AdM: Senhor, por favor, apenas responda a pergunta.
Marido: Tudo bem. Mas...
AdM: Quando o senhor descobriu que ela estava lhe traindo?
Marido: Mas eu não...
AdM: Com quantos homens ela esteve?
Marido: Bem...
AdM: É verdade que numa floresta o senhor seria o alce-chefe? Supondo que três homens vão à sua casa por dia; dentro de um mês...
AdE: Protesto! O que isso significa?
[o júri, mais uma vez, cochicha]
JUÍZA: Ordem! Ordem! Advogado, faça uma pergunta por vez.
AdM: Perdão meretíssima. É que certas coisas me deixam nervoso. Quando vejo um caso desses eu fico..[respira de forma cansada]
JUÍZA: Prossiga.
AdM: Então. Conte exatamente o que aconteceu no dia em que você descobriu que sua mulher estava lhe traindo.
Marido: Bom..foi a um mês. Eu estava voltando do trabalho pra casa.
AdM: Cansado. Com toda a certeza, num é verdade? Por ter de sustentar a mulher e a casa. É realmente desgastante.
Marido: Na verdade ela também trabalha. Nós dividimos as contas da casa.
AdM: Ah... Correto. Correto. Continue.
Marido: Então eu cheguei em casa e ela não havia chegado.
AdM: Absurdo! Amigos do júri, por favor, o desenho do crime está sendo construído diante de nossos olhos. Tarde da noite! E a esposa ainda não havia chegado. Foram essas as palavras.
Marido: É...ela não tinha chegado porque trabalha à noite.
AdM: Ah! Com certeza. Prossiga.
Marido: Então uns trinta minutos depois ela chegou – como era esperado – mas veio acompanhada de um homem.
AdM: Meu Deus do Céu! Não fale mais nada! Alguém chame um guarda para prender essa criminosa!
AdE: Protesto! Ele está xingando minha cliente!
JUÍZA: Aceito. Advogado, modere suas palavras.
AdM: Perdoe-me meretíssima, mas eu não consigo me calar ante tal atrocidade.
[o júri mais uma vez só no burburinho]
JUÍZA: Um momento! Um momento! Ordem. Prossigamos com o testemunho.
Marido: Bem..o homem que estava no carro era o pai dela que veio passar o fim de semana conosco.
AdM: Bem..É..Sim..Mas é claro. Evidente. Continue. Pode continuar.
Marido: Então no outro dia, por acaso, achei esse retrato na gaveta dela. Eu não sabia o que fazer então falei com o Senhor.
AdM: Com Deus?
Marido: Não. Eu falei com o senhor. Eu lhe chamei e pedi ajuda.
AdM: Ah! Sim Claro.
Marido: Tivemos uma conversa e o senhor me disse para aguardar um pouco...para apurar fatos. E na semana seguinte recebi um telefonema anônimo dizendo que minha mulher estava tendo um caso.
AdM: Um telefonema anônimo! Isso esclarece tudo. Sem mais perguntas.
AdE: Protesto!
AdM: Mas você só sabe falar isso? Quem foi que escreveu sua fala?
AdE: [pigarreia] Um momento. Isso não esclarece nada. Quem deu esse telefonema? E por quê?
[júri alvoroçado]
JUÍZA: Ordem. Ordem. A parte da defesa tem a palavra. [bate com o martelo]
AdE: Obrigado meretíssima. Eu chamo ao banco a esposa. Jura dizer a verdade, somente a verdade nada além da verdade até que a morte os separe?
Esposa: Como?
AdE: Claro. É...a verdade. Jura dizer a verdade?
Esposa: Juro.
AdE: Sejamos direto. A senhora traiu o seu marido?
Esposa: Não. Nunca.
AdM: Ah! Por favor! Precisamos de alguém que fale a verdade aqui. Eu me chamo para testemunhar. Onde eu estava na noite de quinta-feira às onze e meia da noite da última semana? Ah meu Deus! Eu não lembro! Lembre desgraçado! Eu protesto! Negado!
[júri mais uma vez avexado que só a muléstia dos cachorro doido]
JUÍZA: Ordem! Ordem no tribunal! [bate com o martelo] Senhor advogado, componha-se. Isso aqui não é nenhum circo. Advogado de defesa, continue.
AdE: Pois bem. Senhora, de acordo com as “provas” anteriormente apresentadas vamos esclarecer alguns pontos: quem é essa pessoa no retrato?
Esposa: É alguém que eu conheço.
AdE: Mas quem é?
Esposa: [chorando] Eu não posso.
AdE: Minha senhora, por favor. Precisamos esclarecer algumas coisas aqui. Por que a senhora estava chorando naquele vídeo?
Esposa: [chora mais]
AdE: Pra quem a senhora tentava ligar naquele momento?
Esposa: Ah! Meu Deus eu não posso...
AdE: Não pode o quê?
Esposa: [chora mais como se não houvesse amanhã]
AdE: Meretíssima, minha cliente não tem condições de continuar. Eu peço uma pausa.
AdM: Protesto!
JUÍZA: Essa fala é do outro..quero dizer. Negado. Vamos fazer um intervalo. Dentro de quinze minutos voltamos.

JUÍZA: Pois bem. O advogado vai continuar com o testemunho da esposa?
AdE: Não meretíssima. Acabei de receber essa pasta sem remetente. É...Então eu chamo agora: o marido.
JUÍZA: Aproxime-se
AdE: Jura dizer a verdade?
Marido: Somente a verdade, nada além da verdade?
AdE: Juro. Quero dizer...isso mesmo. Você jura?
Marido: Juro.
AdE: Ótimo. Então o senhor trabalha?
Marido: Sim, mas o senhor já sabe disso.
AdE: Por favor, atenha-se à pergunta e somente a ela.
Marido: Tudo bem.
AdE: Que tipo de trabalho?
Marido: Fotógrafo. Mas o que isso...
AdE: Senhor, por favor, apenas responda a pergunta.
Marido: Tudo bem. Mas...
AdE: E é fotógrafo de modelos, certo?
Marido: Sim...
AdE: E são belas mulheres. Como essa loira da foto, ou essa ruiva e que tal essa morena? [fala enquanto joga fotos de mulheres na mesa]
Marido: Eu não estou entendendo.
AdE: Não está entendendo?! O senhor conhece essas mulheres, correto?
Marido: Sim..
AdE: E não é verdade que o senhor teve caso com todas elas?!
[o júri se espanta; uma mulher desmaia; a esposa chora]
AdE: Temos a prova A, prova de número B e a prova C de culpa! Está tudo aqui! Fotos, gravação de ligações e filme!
[o júri cohicha; a esposa chora]
JUÍZA: Ordem no tribunal! Ordem! [bate com o martelo]
AdM: Meretíssima, eu protesto!
JUÍZA: Não sei sobre o quê o senhor protesta, pois todas essas provas são legítimas.
AdM: Minha cara juíza. Pessoas do júri. Tudo bem, tudo bem. É verdade que meu cliente traiu 15 ou mais vezes sua esposa? Sim. É verdade. Mas essa não é a questão!
AdE: Como assim essa não é a questão? É claro que essa é a questão!
AdM: Errado! Estamos aqui para julgar o ato de infedilidade daquela mulher! [novamente aponta o dedo dramaticamente para a esposa]
AdE: O infiel é o marido!
AdM: Ora! Tenha santa paciência senhor advogado. Todos sabemos que transar com outra pessoa, enquanto casado, não é infidelidade.
AdE: Mas é claro que é!
AdM: Não. Não é. A traição está nos sentimentos. Os casos que o marido teve foram motivados apenas por atração física e não passaram de uma noite. Era puro e simples desejo carnal. Entretanto, a esposa claramente estabeleceu uma ligação sentimental com outra pessoa, o que afeta a estrutura da relação matrimonial.
[cochicho no júri]
AdE: Mas isso é um absurdo sem tamanho. Traição é traição. (Romance é romance, amor é amor e um lance é um lance (8 ). Não importa o nível!
[cochicho não para]
JUÍZA: Ordem! Ordem e progress..Ou melhor: Ordem! Bom, eu sinceramente não sei como continuar, pois...
Esposa: Mas eu sei. Diante desses fatos não é necessário esconder mais nada. Vou contar tudo.
[e o júri se espanta]
JUÍZA: Muito bem então. A senhora jura dizer a verdade e blá blá blá?
Esposa: Eu juro. [suspira fundo] Quando cheguei em casa acompanhada do meu pai, tinha uma coisa muita importante pra dizer ao meu marido. Meu pai não foi apenas nos visitar, ele ia me apoiar nessa tarefa; mas eu não consegui. Passou o fim de semana e nos dias que se seguiram eu estava muito angustiada. Eu precisava revelar esse segredo. Liguei para o meu pai, mas ele não estava. Passei um tempo chorando na cozinha depois que recebi a notícia que tinha que vir ao tribunal, pois meu marido desconfiava que eu o traía. Pensei em dizer tudo naquele momento, mas fui fraca. Só que agora...depois disso tudo; eu estou pronta. A verdade (João Kléber) é que...

eu era homem.
TAN! :O [AiMeuDeusDoCéu!!!! Quem escreveu isso???? AAAAAAAAAAAAAA]
[zuada]
Marido: O QUÊ?!
AdM: [Vomita]
JUÍZA: Ordem! Ordem c@rAlh0! Biziu, biziu...
-SILÊNCIO-
Marido: Mas como assim?
Esposa: Sim. É verdade. Sou eu nesse retrato, antes de...Bom. Meu pai sabia...então...eu ia te contar. É isso.
Marido: Mas..Mas...
JUÍZA: Certo. Isso foi bem...chocante. Provavelmente eu não vou dormir hoje... Éééé..Os advogados têm alguma coisa a acrescentar? Não? Então ...caso encerrado. [bate com o martelo].
Marido: Mas...Mas... [em estado de choque]
AdE: Mas...ficamos sem saber quem deu o telefonema anônimo e quem deixou essa pasta com provas contra o marido aqui.
AdM: É. Ficamos. E nunca vamos saber...nunca...

segunda-feira, 20 de junho de 2016

SALVO


Quanta areia precisará escorrer para você perceber que eu preciso ser salvo? Não me torne um alvo para suas mentiras, desculpas e traições Essas objeções transformam emoções em algo caricato Barato, inato, sem tato pelo simples fato de que eu preciso ser salvo O som se choca com a boca torta do dia Onde antes havia dor e sorte Agora só resta um forte desejo de ser salvo Um causo sem porquê Será que você não vê que eu quero ser salvo? Tá vendo a mancha de álcool no chão onde ele costumava ficar? Não há lugar longe o suficiente para me afastar E tentar me tornar uma pessoa diferente do que ele foi Pois apesar de dizer não Eu sou sim Um espelho refletindo a vergonha de quem sonha Mas não alcança e se cansa ainda quero ser salvo Tatuo tua triste testa temporária com amor Mas por favor Não demore ou quer que eu implore para ser salvo? Compara o momento anterior com o agora E chora comigo, pois preciso de abrigo Nesse mundo imundo Já estou farto de sentir asco e medo do que é importante Só basta um instante para você me salvar E acabar com esse sentimento de pertencimento ao sofrimento Constante e pulsante que permanece e floresce Nas trevas do meu ser Não é possível que você não enxergue Olhe pra mim e carregue esse fardo incômodo e pesado Acho que você não vê que eu preciso ser salvo Ao afundar em minhas palavras reconheci que ninguém me conhece Você não me merece Esquece tudo Estou de luto Não há fruto em uma árvore seca Apenas veja minhas mãos e sinta a dor do meu coração A verdade é que revelou-se ao acaso que eu não posso ser salvo Estou caindo e gostando disso Estou te perdendo e gostando disso Estou rachado e já não me importa como serei achado Os cacos mostram você, mas não quero ver Não é difícil perceber que eu não posso ser salvo Hey! Não chore Era isso que eu queria Nessa fria existência extensa Você pensa que eu poderia ter sido salvo Ou algo assim nunca ocorre para quem só corre e foge? Enfim, enfia fundo essa faca afiada a fim de foder o resto da minha fé Aqui de pé me tornei uma mancha Que dança sozinha, contida e escondida Desse mundo imundo Não me limpe Não ficarei alvo Sou apenas algo que não quer ser salvo

segunda-feira, 13 de junho de 2016

   

2002



   Vou falar sobre o ano de 2002. Esse ano do qual lembro pouco, mas considero pacas. Foi um ano realmente interessante. É possível afirmar que foi decepcionante para alguns e maravilhoso para outros? Sim. Muito fácil afirmar isso. Difícil é encontrar um ano em que tantos fatos tenham relação direta com o número dois.
Seria coincidência? Obra do destino? Ou apenas a extrapolação da loucura desse que vos escreve?
Acompanhe.
   A indústria cinematográfica hollywoodiana produz centenas de filmes todos os anos. Isso é de conhecimento geral. E muitos sabem também que sequências, remakes, reboots, têm cada vez mais espaço nas telonas. E é espantoso observar a quantidade de continuações lançadas no ano de 2002.
   As crianças puderam se divertir com 'Pequenos Espiões 2: A Ilha dos Sonhos Perdidos' e 'O Pequeno Stuart Little 2'.
Muita gente curtiu rever Will Smith e Wesley Snipes em 'MIB - Homens de Preto II' e 'Blade II' respectivamente.
Fascinante não é mesmo? Só que ainda tem mais.
  Uma franquia que possui magia, fantasia e aventura também teve continuação em 2002. Na verdade não uma; três.
'O Senhor dos Anéis: As Duas Torres', 'Harry Potter e a Câmara Secreta' e 'Star Wars Episódio II: O Ataque dos Clones' foram sucesso de bilheteria. Esses filmes trouxeram novos personagens e um desejo de quero mais.
O que é desafiante para uma continuação. Ela precisa manter a essência do seu antecessor e ao mesmo tempo não se deixar cair na mesmice.
  Fomos agraciados ainda com o filme 'Dragão Vermelho' com Anthony Hopkins retornando ao papel do psicopata Hannibal Lecter. Sendo que essa foi a segunda adaptação do livro homônimo de Thomas Harris. E coincidentemente também foi o segundo livro do escritor.
A primeira adaptação chama-se 'Manhunter' (1986) e conta com William Petersen no papel de Will Graham. Esse mesmo Petersen que é lembrado por ser o Grissom de CSI.
Série essa que acompanhava o trabalho dos cientistas do 2º maior laboratório de criminalística de Las Vegas.
Eu sei. Chocante.
   E ainda tiveram a ousadia de lançar '007 - Um Novo Dia para Morrer', que é o 20º filme da franquia e o quarto e último de Pierce Brosnan. Analisando bem, é possível perceber que 20 e 4 são múltiplos de...? Isso mesmo. Os fatos estão aí. Só não enxerga quem não quer.
   O Brasil também produz filmes, mas nenhum título exibido no ano provocaria tanto impacto quanto a notícia de que foram apresentados dois BBBs em 2002.
   O 'Big Brother Brasil 1' foi de 29 de janeiro até 2 de abril. E o 'Big Brother Brasil 2' iniciou em 14 de maio e encerrou-se em 23 de julho.
Essa gana de empurrar duas edições, em um mesmo ano, só pode ser explicada como uma tentativa de superar o sucesso estrondoso da 'Casa dos Artistas' (vulgo melhor reality show já feito).
   Os acontecimentos esportivos também não ficaram de fora dessa energia binária invisível. Algumas das principais manchetes foram:
'A seleção brasileira vence a Alemanha na final com dois gols de Ronaldo'. (Bem antes do fatídico 7 x 1).
'Rubens Barrichello torna-se vice-campeão de Fórmula 1'. (Piada pronta, porém inevitável).
'O Corinthians se consagra Bicampeão da Copa do Brasil'. (A situação começa há ficar um pouco incômoda).
'O campeão do mundo de xadrez, Vladimir Kramnik, empata com o programa de computador Deep Fritz'. (O que isso tem a ver? Não sei. Mas a palavra chave aqui é empate).
Muitos fatos passaram despercebidos, mas olhando em retrocesso é bem assustador.
   Observe agora como a dualidade estava presente até na vida e na morte:
'22 de Maio nasce Maisa da Silva Andrade'.
'No mesmo ano, Suzane Von Richthofen abriu a porta da mansão para os irmãos Cravinho'.
   Como é possível que o número dois possa estar tão presente assim?
   Veja mais dois exemplos extraídos direto do cenário musical brasileiro:
'Cláudio Rodrigues de Mattos que fazia dupla com Buchecha faleceu em julho'.
'O grupo Rouge foi formado em 2002'.
   E agora uma breve explanação:
   Claudinho e Buchecha formavam uma dupla, portanto encaixa-se na teoria do ano. O Rouge tinha cinco integrantes, o que contradiz tudo o que disse até agora. Entretanto, poucos se recordam que Luciana deixou o grupo em 2004. Ou seja, dois anos depois da formação o grupo ficou com quatro belas integrantes.
   E por falar em belas mulheres, a Playboy lançou edições maravilhosas no ano de 2002.
   Como parte da pesquisa, é claro, tive que analisar minuciosamente todas as páginas. Detendo-me nas matérias e entrevistas realizadas na época.
   Joana Prado apareceu mais uma vez na revista em Janeiro. Embora a edição de 1999 continue sendo a mais vendida é sempre interessante rever de outra maneira.
   Além de Sheila Mello e Deborah Secco, no mesmo ano, mais precisamente em Dezembro, fomos agraciados com o melhor par de seios de todas as publicações: Kelly Key.
   Essa edição alcançou o posto de 4ª publicação mais vendida e deu à cantora o 2º maior cachê da história da revista no Brasil.
Ela que consegui emplacar dois sucessos nas rádios de todo o país - Baba e Cachorrinho.
   E sabe quais outros dois sucessos internacionais foram lançados em 2002?
   Surpreenda-se com a ironia:
   Enquanto Justin Timberlake pedia 'Cry Me A River' o Oasis dizia 'Stop Crying You Heart'.
   Pode parecer obra do acaso, mas com tudo o que já foi visto aqui não dá mais para ignorar.
   Eu vou encerrar aqui porque tudo está muito claro.
   E sabe o que é mais curioso?
   Esse texto tem exatamente duas mil e duas palavras. 
   Ou quase isso.

terça-feira, 7 de junho de 2016

CLARA  



Foram palavras tão afiadas que rasgaram completamente minha alma. Essa é a maneira mais sincera de descrever o que
se passou naqueles instantes. É até curioso como chegamos naquele momento. Não houve uma briga de casal.
Não existia nenhuma bolinha de conflito que foi se transformando em uma avalanche de gritos e palavras antes
nunca ditas. E que nunca deveriam ser ditas.
Nada disso aconteceu.
  Realmente não sei o que houve. Estávamos tão apaixonadas. Bom, da minha parte tenho certeza. Embora ache que
não seja possível emular amor de forma tão convincente. Ou talvez seja apenas ingênua mesmo. Não estou me
declarando uma vítima completa aqui. Longe disso. Quando ainda era humana cometi vários erros.
E observando a situação até certo ponto tenho plena certeza que foi um erro me envolver com Clara.
Apesar do nome ela mostrou-se bastante opaca - Sim, eu possuo um senso de humor bastante peculiar. Diria
até que são para poucos.
  Nos conhecemos através de amigos em comum e acabamos nos tornando bastante próximas. Éramos amigas que contavam
tudo uma para a outra. Que chorava junto na tristeza. E que ficava mais feliz pelo sucesso da outra do que o seu.
Nunca pensei que encontraria uma pessoa que me incitasse sentimentos tão agradáveis e momentos tão prazerosos.
Portanto, foi uma passagem bastante natural de abraços de despedidas a longos beijos demorados de reencontro.
Eu me sentia completa.
  E esse foi o meu maior erro - Logo depois de atravessar uma avenida com os olhos no celular, mas chego
já nesse ponto. Eu estava viva, mas dependia de outra pessoa para essa vida fazer sentido.
Agora enxero isso claramente - Olha só. Fiz de novo. Bem na sua cara.
  Embora eu perceba isso. Percebo também que ainda a amo muito. Daquele amor que dói, literalmente, na alma.
Porque amar machuca. E provoca feridas que são difíceis de curar. Mesmo depois da morte.
Pois é. Eu morri.
  Estou escrevendo isso do além. Bem assustador, né?
Mas se você quer saber mesmo: é bem mais chato do que aterrorizante. Não tem absolutamente nada para se fazer aqui.
Por isso que resolvi escrever. Só não sei ainda como vou publicar.
Talvez encontre algum médium ou possua uma caneta... - Apenas brincadeira.
...
  Eu voltei. Por mais incrível que isso possa parecer. Não adianta perguntar porque eu não sei como. Sei apenas que ninguém
nota minha presença e que adquiri um conhecimento extraordinário de informática e biologia.
O ácido desoxirribonucleico, bem como o protocolo kerberos nunca fez tanto sentido pra mim.
  Ao que tudo indica voltei para concluir um assunto inacabado - Não. Eu não voltei para puxar o pé de ninguém enquanto dorme.
E antes de voltar para o descanso eterno resolvi continuar escrevendo essas memórias póstumas.
Então vamos aos acontecimentos.
  Era um fim de tarde de outubro. Dia 17 para ser mais precisa. Tínhamos combinado de assistir um filme na casa dela.
O cenário estava perfeito: um filme de karatê mal dublado, pipoca velha e o som estridente do vizinho do lado.
Mas estava nos braços da Clara e isso era mais que perfeito.
  Porém percebi que não tinha muita conversa. Ela não costumava atrapalhar a sessão, mas sempre fazia comentários
engraçados - Um humor melhor que o meu. Vale ressaltar aqui. E não rolou uma mãozinha boba. Sempre me sentia atacada por
um polvo - De uma maneira boa, é claro. Se é que existe um lado bom nisso...
Ela apenas afagava meu cabelo de maneira mecânica. Eu sentia que ela não estava ali completamente.
  Após o filme fomos para a cama e foi a noite mais incrível que passamos juntas. Ela tinha se transformado numa labareda
de paixão e luxúria. Bem diferente da pedra de mármore de minutos antes. Ficamos exaustas e dormimos rápido.
Quando acordei, Clara já estava vestida e disse que tinha um compromisso no trabalho e só poderíamos nos ver no dia seguinte.
Eu detestava ficar sem vê-la. Mesmo que fosse só por um dia. E mais ainda quando ela aparentava essa indiferença.
Como se para ela estivesse tudo bem. Um dia, dois ou três semanas sem nos vermos... - Exagerada eu? Claro que não!
Apenas louca de amor.
  Quando cheguei em casa estava com um misto de alegria e tristeza. É difícil explicar. E sem falar nessa sensação que
me rondava. Agora tenho certeza do que era isso: o hálito da morte - Tentei ser tenebrosa e consegui apenas ser brega.
  O dia demorava a passar. Nem prestava atenção na rotina de tão rotineira que era. Queria apenas encontrar com Clara
no dia seguinte e dizer que a amava muito. Ela já sabia disso, mas ainda assim sentia que precisava dizer isso a ela.
Precisava tanto que mandei uma mensagem logo antes de me deitar.
  É ótimo acordar com uma mensagem desse tipo, não é?
E sabe que tipo de mensagem não é legal de se receber assim que acorda?
"Precisamos terminar"
  Selecione as letras certas, forme as sílabas corretamente e você obterá frases que são como facas banhadas em lava e veneno.
"Como assim?"
"Estou com outra. Adeus."
  Já havia ficada sem reação diversas vezes. Momentos constrangedores, situações inusitadas e até ocasiões perigosas. Mas ali
eu fiquei sem nada. Completamente. Posso dizer que a primeira vez que morri foi naquele instante. Não tinha forças nem para teclar.
  Após um bom tempo imóvel consegui ligar, mas ela já não me atendia. Enviei uma nova mensagem.
"Estou indo para a sua casa. Vamos conversar."
Fui novamente ignorada.
  Eram golpes terríveis que eu estava recebendo. E doíam mil vezes mais, pois estavam sendo dados por uma pessoa que eu amava 
mais do que um milhão de vezes.
  Me vesti rápido e ainda na saída de casa enviei minha última mensagem. Eu ia dizer que foi sem pensar, mas na verdade foi sem
orgulho, sem egoísmo, sem raiva. Foi um minúsculo espaço de tempo onde eu me sentia livre de qualquer influência ou sensação - Vide
hálito da morte.
E sem pensar enviei:
"Precisamos ficar juntas"
  Enquanto aguardava uma improvável resposta, andava apressada e tropeçava na vida das outras pessoas. Desastrada por natureza, privar-me
voluntariamente de um sentido tão importante, como a visão, não foi uma decisão muito esperta.
Andava seguramente na faixa de pedestres enquanto olhava fixamente para a tela em minhas mãos. Por isso não notei a luz vermelha insistente
proibindo a passagem.
  Antes de desmaiar consegui ouvir o som de algo se esfacelando. Ainda não sei ao certo o que era. Não importa. A única coisa que sei é
 que vi com clareza - Esse foi sem querer - um alerta de mensagem recebida.
Clara tinha respondido tarde demais.
  Chegamos então ao assunto inacabado. Aparentemente muitos espíritos voltam à terra para resolver assuntos pendentes.
Muitos estão furiosos, outros assustados e alguns apaixonados. Esses últimos são os mais perigosos.
  Conseguir achar o celular não foi fácil. Tentei o hospital, minha casa, o necrotério. Nada.
Pensei que ele poderia ter sido roubado. Fui em todas as casas da cidade. Sério. Vi coisas que nenhuma fantasma
deveria ver.
Só evitei uma casa.
Não queria vê-la naquele momento. Porém minha curiosidade venceu minha atitude reticente.
  O aparelho estava em cima da cama. Várias baterias, carregadores e cabos estavam espalhados no colchão.
Ele estava bastante danificado. Tela rachada, amassados e ranhuras. O pacote completo de estragos. Igual a mim - Humor estranho. Eu sei.
Foi fácil ligá-lo porque como já havia dito: especialista em natureza e tecnologia.
E lá estava a última mensagem recebida:
"Precisamos ficar juntas"
"Quem sabe numa próxima vida"
...
  Eu tentei ficar furiosa, mas não conseguia. Estava amando-a mais. Era como se eu soubesse de algo que ainda fosse saber.
Bem difícil de entender. Mai difícil do que o complexo de golgi ou iptables.
Olhei ao redor e vi que o quarto estava um pouco vazio. Na verdade a casa toda. Só que não era um vazio de mudança.
Era um vazio de vida.
Imediatamente fui encontrá-la.
Novamente. Não sabia onde ela estava, mas sabia como chegar até ela.
  Haviam se passado apenas três meses desde que morri, mas ela já estava sem nenhum fio de cabelo e com menos da metade
do peso original. Os olhos fundos e a expressão cansada não lembrava em nada a pessoa deslumbrante que eu conheci.
Escutei os médicos dizendo que ela não estava lutando. Desistiu antes mesmo de dar entrada.
Bisbilhotando bastante, achei documentos que informavam a data da primeira consulta. 17 de outubro.
  Entrei no quarto e ela sorriu. Um sorriso tímido de canto de boca. Mas ainda assim foi o sorriso mais deslumbrante que 
jamais tinha visto. Sentei-me na beirada da cama pra escrever essas linhas finais enquanto espero minha Clara.