domingo, 4 de setembro de 2016

Winter On Fire: Ukraine's Fight for Freedom


Transportar. Essa é uma ótima palavra para descrever o que se passa ao assistir Winter on Fire.
Com a câmera no meio do povo, o documentário produzido pela Netflix percorre os 93 dias da ocupação de Maidan, praça central da capital Kiev. E, sem exagero, é possível sentir toda a angustia, medo e revolta.

Através de uma rápida apresentação ficamos a par da situação do país. A Ucrânia, que já havia se declarado independente em 1991 da União Soviética, elegeu Viktor Yanukovych. Viktor era um candidato pró-Rússia que prometeu assinar um acordo de livre comércio com a União Européia (UE). Com o país em dificuldades econômicas quase metade dos ucranianos acreditava que essa integração deveria acontecer. Entretanto, Yanukovych ignorou o acordo e se voltou secretamente para a nação de Putin.

Devido o acordo não ter sido assinado, em 21 de novembro de 2013 um protesto espontâneo ocorreu em Maidan. Diversas pessoas - estudantes universitários em sua maioria - se reuniram para demonstrar sua insatisfação e em troca foram agredidos pela Berkut, uma polícia especial do governo. Os protestos passaram então a ser não apenas pela integração Européia, mas também pelo direito de liberdade e de expressão como cidadão.

"Todos juntos somos fortes" e "Kiev, fique de pé" eram frases entoadas pelas pessoas presentes na "marcha dos milhões". Essa marcha, que não foi a única, tinha como destino o palácio presidencial. Dessa vez gás lacrimogênio e bombas de efeito moral foram os protagonistas do embate entre a polícia e o povo, deixando espaço ainda para o sangue que se via por todo lado.

Enquanto uma reunião ocorria com representantes dos EUA e UE a Berkut tentava tomar a praça. Unindo os braços e cantando o hino, os resistentes de Maidan conseguiram impedir o avanço da polícia. Depois desse episódio, barricadas foram construídas com sacos de neve, estacas, pneus e arames para isolar o local. Militares reformados ensinaram as pessoas como se defender de maneira
eficaz e os líderes religiosos estavam do mesmo lado.


Maidan em 31 de dezembro de 2013


Após a virada do ano, foram aprovadas várias leis com caráter ditatorial. Por exemplo, o governo poderia bloquear a internet a qualquer momento e era proibido  usar capacetes. De forma irônica, diversas pessoas passaram a sair com escorredores de macarrão na cabeça e uma outra marcha iniciou-se até o parlamento para contestar essas novas leis. A Berkut bloqueou novamente o caminho e com a ajuda de Titushkis (mercenários que cumprem qualquer ordem em troca de
dinheiro) espancaram civis exaustos. Balas de barrocha deram lugar a balas reais e o centro de remédios e curativos foi destruído. Estava instaurado um cruel conflito entre o povo ucraniano. Polícia contra população.

Os militantes que protestavam nos carros (a AutoMaidan) tiveram seus automóveis destruídos, retirados dos próprios veículos e levados para continuarem sendo espancados. Isso foi feito graças uma parceria entre a Berkut e a polícia de trânsito. As filmagens desse momento são bem tensas e é possível sentir o medo das pessoas que eram surpreendidas na estrada.

Em fevereiro de 2014, três pedidos foram feitos: liberação dos presos políticos, igualdade de poderes entre o parlamento e o presidente e, por último, a antecipação das eleições. Para serem ouvidos, uma marcha pacífica foi organizada, mas não conseguiu chegar ao parlamento. A Berkut aguardava juntamente com os Titushkis. Estes últimos estavam mais organizados e faziam o que a polícia não podia fazer.

Os manifestantes que voltaram para Maidan depararam-se com franco-atiradores. O cenário era de diversos mortos. Pessoas arrastando feridos em meio a uma chuva de balas. pessoas defendendo-se apenas com um escudo de madeira, pessoas sangrando até morrer. O inferno era ali.
Após esse episódio, o povo exigiu a renúncia de Yanukovych ou entrariam em um confronto armado.
A polícia de choque recuou e o presidente fugiu do país.

O filme nos mostra uma história real e recente perturbadora. O governo, que deveria servir ao povo, não aceitou contestação e utilizou seu braço policial para dialogar. Um protesto que iniciou-se com o sentimento de insatisfação evoluiu para a defesa dos direitos humanos e contra o abuso de poder.
O mais terrível é saber que essa história ainda não acabou.
O governo interino assinou o acordo de associação com a UE, a Rússia considerou a revolução como um golpe de Estado e invadiu a Crimeia (território pertencente à Ucrânia). Além disso, protestos pró-Rússia despontaram no país iniciando uma guerra civil no Leste que dura até hoje.



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