domingo, 24 de julho de 2016

# Diálogos



# Na sala de espera

- Daí eu disse pra ela: Brigar por você? Eu não brigo nem pra
  conseguir um assento no ônibus!
- É isso aí, cara. Mandou mesmo.
- Senhores, podem seguir o corredor. Primeira porta à esquerda.

# Na entrevista

- E, se vocês pudessem, que animal seriam?
  Começando por você aí do canto.
- Bom, eu diria um hipopótamo. Porque ele destrói os obstáculos mantendo
  o caminho livre pra continuar seguindo em frente.
- E você?
- Eu seria uma formiga, pois trabalha em equipe, possui organização e disciplina.
- E quanto a você?
- Lagarto.
- Um lagarto?
- É. Um lagarto.
- Um lagarto?
- Um lagarto.
- Por que um lagarto?
- Bem, eles andam nas paredes.
- Anham.
- É.
- Ééé...
- Bom...e...sabe?...eles comem insetos.
- Ééé...
- E se eu me esforçar bastante posso me tornar um dragão-de-komodo...ou...algo...mais...
- Ééé...acho que não é assim que funciona.
- E também tem o rabo. Se cortarem meu rabo nascerá outro em poucos dias.
- Eu acho que já tá bom por aqui.

# Na casa da mãe

- Então você não consegui o emprego?
- Eu não diria isso, mãe. Essas dinâmicas sempre deixam as avaliações incompletas.
  Tá tudo ainda muito em aberto pra afirmar algo.
- Mas você mostrou os diplomas? Eles viram as notas?
- Não. A gente ficou mais na conversa informal mesmo.
- Ficaram conversando?
- É. Trocando ideias sobre natureza, animais. Ecologia, essas coisas.
- Entendi. E como é que tá a comida? O molho tá bom?
- Tirando esse cabelo aqui tá excelente.

# Na loja

- Eu queria uma camisa.
- Por quê?
- Por que o quê?
- Por que o senhor quer uma camisa?
- Por que eu sujei essa com molho.
- O molho tava bom?
- Faltava sal.
- E o senhor disse?
- Disse que queria uma camisa.
- Não. Disse que faltava sal?
- Não. Já tô acostumado.
- Entendi. E o que o senhor disse antes?
- Que tinha um cabelo.
- Não. Antes agora.
- Que eu queria uma camisa.
- Queria? Não quer mais?
- Ainda quero.
- Preferências?
- Loiras.
- Não. De camisa.
- Uma que cubra o corpo.
- Algo mais específico.
- Sem mancha de molho.

# Na porta da casa da namorada

- E muita gente associa os dinossauros aos lagartos. Só que isso é um baita erro.
  Se você reparar bem, os velociraptors e até os tiranossauros são muito parecidos com
  galinhas grandes. E as aves são animais de sangue quente assim como os dinossauros eram.
  Diferente dos lagartos que são répteis e possuem sangue frio. Portanto quando...
- E o que isso tem a ver com a gente?
- Meu bem, eu tava tentando falar uma coisa, mas acabei divagando. Só abre a porta
  pra eu te olhar nos olhos e dizer...

# Na sala de espera

- Daí tu disse o quê?
- Que eu comprei uma camisa!
- É isso aí, cara. Mandou mesmo.
- Senhores?

quarta-feira, 20 de julho de 2016

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- Então você conhece uma pessoa. Uma pessoa interessante, agradável. Uma pessoa que te faz bem. Pode-se dizer que é a pessoa da sua vida.
E vocês estão juntos. É perfeito. Na verdade é mais que perfeito. É o início do "felizes para sempre". Só que a partir desse ponto mágico
duas coisas principais podem acontecer.
  A primeira é permanecerem juntos. Um casal, uma dupla, uma parceria para todos os momentos que virão. Um time que com o passar do tempo
se conhecerá por completo. Sem segredos, sem detalhes curiosos, sem novidades. A rotina que se torna cômoda. A comodidade que se torna
segurança. O inevitável desgaste natural da vida a dois. O sentimento muda. Menos intenso, menos abrasivo. Talvez até inexistente.
Porém estão juntos. Juntos até o fim da vida.
  A segunda coisa que pode acontecer é novamente o fim. Sendo esse bem antes. O fim no meio. O fim que dá espaço a outros começos - e outros
possíveis fins. É algo difícil a ser encarado. Todos os planos, promessas e sonhos são cortados de suas raízes abstratas. Essa é a possibilidade
que te poporciona imaginar o que teria acontecido. E se tivesse dado certo? E se continuasse do ponto que parou? E se fosse até o fim?
Não dá pra afirmar com certeza, mas é bem provável que se tornaria a primeira ramificação do ponto mágico. Um círculo que gira cada vez com
menos intensidade. Enfraquecido pelas próprias pessoas que o puseram em movimento.
  Acabei pintando um quadro bastante pessimista, certo? É verdade, mas isso não me deixa menos certo.
Existem ainda outras possibilidades lógicas - bem, lógicas para mim.
  A primeira é um pouco dramática. Meio shakesperiana se preferir. Abraçarem juntos a morte para tonar a chama do amor imortal.
Ao decretar o próprio fim, de uma certa forma, o que foi sempre será. Nenhum acontecimento posterior poderá mudar isso. Estará escrito
no cosmos e permanecerá eternamente apenas sendo.
  A outra possibilidade é não haver uma possibilidade. Simplesmente não existe um casal, uma dupla ou uma parceria. Nada de time.
Aquilo que não tem início nunca terá um fim. É um pouco covarde. Diria que até mais dramática que a anterior, porém válida.
 Então em resumo tem-se:
Completem a corrida e fiquem exaustos, deixem-a inacabada e sintam-se mal, estipulem seu próprio ponto de chegada, não corra.

- E se você apenas aproveitar a companhia? Sem se preocupar com os outros competidores, com a chegada e até mesmo com a própria corrida.
E se não for uma corrida? E se for apenas uma caminhada tranquila na praia? Os pés de ambos descalços enquanto sentem o vento e apreciam a paisagem.
E se bastar apenas um fragmento ínfimo desse momento pra dizer que todos fins prematuros, corridas não realizadas ou completas valeram a pena?
E se você tornar aquele ponto mágico mais mágico? Um ponto especial que existe ao mesmo tempo na largada e na chegada.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

UMA CENA BEM SURPREENDENTE
[toc-toc-toc]
Diego: Quem é?
Daniel: Daniel.
D_ego: E aí cara, beleza?
Dan_el: Tranquilo. Já chegou todo mundo?
D_ego: Não. O Davi tá no quarto colocando a fantasia. Só falta o Doutor.
Dan_el: É. Ele sempre se atrasa. Oh, toma aí as bebidas.
Davi: Bebidas!? Tu sabe que eu num bebo...Mas, e aí como eu tô?
Dani_l: Cara, por que você tá vestido de chapéu?
Dav_: Chapéu, pô. Tem tudo a ver.
Di_go: Qual é, Daniel? Tu sabe que o Davi tem que entrar no clima do filme que a gente vai assistir.
D_niel: Tá, mas ele vai sentar no chão porque isso não vai caber no sofá.
Dieg_: Tá bom. Vou preparar a pipoca enquanto o Doutor não chega.
D_niel: [se joga no sofá e abre uma cerveja] E eu vou relaxar por aqui.
D_vi: Aqui tá maneiro, né?
Dan_el: É. Tá. Olha...David, por que tu ainda não parou com essa mania?
Dav_: Mania? Que mania?
Dani_l: É. Isso.
D_vi: Isso...
D_niel: Esquece. Deixa pra lá.
Dav_: Lá fora tá um tempo sinistroso, né?
Dani_l: Não...Só é noite.
D_vi: Noite é bom.
D_niel: É...
[telefone toca]
Dan_ _l: [atende o telefone] Alô? Fale Doutor! O quê? Um pouco quanto? Sim, sim. Tá bem. Quê? Não, não. Só bebeu treze garrafas até agora. Hahahahahhahaha. Tá, tá. Tchau.
Die_ _: Era o Doutor?
D_ _iel: Era. Ele tá preso com um paciente. Vai atrasar um pouco.
Di_ _o: Como sempre.
Dan_ _l: Acredita que por causa dele eu acostumei a assistir filmes em inglês com legenda em espanhol?
Di_ _o: Acredito que tu é mais é fresco.
_ _niel: Olha lá..
_ _ego: Já bebesse quantas garrafas, hein?
Da_ _el: Meu filho, eu não bebo nenhuma garrafa. Eu só bebo o líquido. Hahahahahahaha.
Da_i: Hahahahahhaha.
D_ _go: Que engraçado. Mas...e aí Daniel, como tá a Deise?
Dani_ _: Ah, velho. [bebe um pouco] Eu não quero falar sobre isso.
Di_ _o: Por que meu irmão?
_ _vi: Irmão. Qual é?
D_ _iel: Tá bom, tá bom. [bebe mais] Ela ainda acha que eu traí ela, mas num é verdade...vocês sabem. [bebe denovo]
Di_ _o: A gente sabe, mas dá pra maneirar na bebida?
Dani_ _: [bebendo] Não enche.
_ _ego: Então, alguém sabe sobre o quê é esse filme?
Daniel: Eu não faço ideia. Era a vez do Doutor escolher. Davi, lê aí a sinpose.
D_ _i: Sinpose: Um filme surpreendente que prenderá você do início ao fim. Numa pequena cidade uma série de crimes ocorrem e a única pista deixada pelo assassino é um chapéu sobre o rosto da vítima. Tenha cuidado, pois o assasino pode estar do seu lado.
Da_ _el: UUUuuuUUUuuUU que medo. Ei, as bebidas esquentaram.
Die_ _: Tem algumas nas geladeira.
_ _niel: Pegue lá.
Di_ _o: Deus lhe deu braços e pernas.
_ _niel: Amém. Deixa que eu pego.
Die_ _: Então, Davi, como tu fez essa fantasia enorme?
Da_ _: Enorme, né? Mas, foi tranquilo. Aproveitei a de maçã do ano passado.
_ _ego: Hum. Vamos ver o que tá passando na TV. [liga a TV]
TV: Isso mesmo. Como vocês podem ver essa é a segunda vítima desta noite e trata-se de um policial. Acredita-se que ele foi estrangulado, provavelmente, uma hora atrás.
Di_ _o: Daniel, corre aqui! Vem ver isso!
D_ _iel: Oi.
TV: A polícia ainda não tem suspeitos. A única pista encontrada foi um chapéu que estava sobre o rosto da vítima. Voltaremos com mais informações em breve. É com vocês do estúdio.
_ _niel: [bebe um pouco] Cara que loucura!
_av_: Loucura mesmo.
_ie_o: Meu Deus! A história do filme...eu não acredito que isso tá acontencendo. Essa rua que apareceu na reportagem é desse bairro!
D_n_el: Então...o assassino tá solto e perto daqui?!
D_e_o: Deus do céu! O Doutor tá vindo pra cá. Liga pra ele. Rápido!
Daniel: [bebendo outra vez] Tá, tá.
[Ligação: tuuu...tuuuu..tuuu...]
_ani_l: Ninguém atende. Só cai na caixa postal!
D_eg_: Oh...
_a_i: Oh...O quê?
D_e_o: A repórter disse que essa é a segunda vítima. E se...
_anie_: Não, cara. Nem pensa nisso. O Doutor tá bem. Ele...ele...só não ouviu o telefone.
[telefone toca]
Dan_e_: Ah! Que susto. Alô? Quê? O que você tá fazendo aqui? Não, não. Eu não quis dizer...É só que...Peraí. Não! Não sai daí. Espera. [desliga o telefone]
Di_g_: Quem era?
_a_ie_: Era a Deise. Ela tá la em baixo na porta. Eu vou lá.
Di_ _ _: Você tá louco? Esse maluco pode tá perto.
D_ _ie_: Por isso mesmo que eu vou. A Deise...Eu não vou demorar.
[sai e fecha a porta]
_ _ _i: Demorar...E se ele demorar, cara?
_ _ _go: Ele não vai. Eu espero. Oh...eu não acredito que isso tá acontecendo. Eu preciso de uma bebida.
_ _ _i: Bebida? Não, nada de bebida. Tu precisa ficar sóbrio. De todos nós tu é o mais equilibrado.
D_ _go: Ah, Ok. Eu só preciso me acalmar. [respira fundo] Peraí. Talvez...se...isso tudo que tá acontecendo for igual ao film... quem sabe no próprio filme não tem alguma resposta.
Da_i: Resposta. Isso mesmo. Vamos ver. Deixa eu só tirar essa fantasia.
D_ego: Tudo bem.
**************************************************************************
_ie_o (falando sozinho): Hum...deixa eu ver...Nossa. Isso é muito estranho. Como que a história do filme que o Doutor...pode tá acontecendo...Não. É muita coincidência. O Doutor ainda não chegou. Ele poderia ter tempo...Será que? Não, não. Mas, se for ele...o Daniel...Eu preciso ir lá em baixo! Mas...a única pessoa que falou com o Doutor foi o próprio Daniel. Poderiam ser uma dupla...Não! Que loucura. Eles são meus amigos! Se bem que...ele disse que era a Deise no telefone, mas poderia ser o Doutor...Porém, o filme só fala de um assassino. Só que eu não vi o filme...a única pista é o chapéu...O Davi tava vestido de chapéu...Poderia ser ele? Ele chegou antes de Daniel, mas teria tempo pra...então ele poderia...todo esse tempo...Não! Isso é loucura.
[toc-toc-toc]
_iego: Ah! Que susto. Quem é?
Deise: Diego? Por favor, abre a porta!
D_ego: [abre a porta] Deise? O que aconteceu? Por que você tá tão agitada?
De_se: O Daniel...ele...ele tá morto!
TAN!
Die_o: O quê?
Dei_e: O Doutor...O Doutor, foi ele.
Dieg_: Mas...por que você tá dizendo isso? O Doutor estava lá?
D_ise: Não, mas o Daniel só falava o nome dele...[chora]
D_ego: Calma Deise. Tinha mais alguém lá em baixo?
Dei_e: Não...Eu...eu não consigo entender...
Da_i: Entender o quê?
Dieg_: Ah! Davi, vem cá. Senta perto da Deise.
Dav_: Deise, o que aconteceu?
_eise: [chora]
_iego: O Daniel tá morto.
_avi: Morto!? Mas...Oh meu Deus!
D_ _go: Calma Davi. Precisamos ficar calmos.
D_ _i: Calmos? Nosso amigo tá morto. Como a gente pode ficar calmo?
Die_ _: Deise, por favor, respira fundo e conta pra gente o que você viu.
Dei_ _: [chorando] Ele tava...descendo as escadas...então...ele caiu e só falava o nome do Doutor. Eu tentei ajudar, mas...ele tá morto. Eu não consigo enteder...[chora mais]
_ _vi: Entender...nem eu consigo entender. O que a gente vai fazer?
D_ _go: Vocês precisam se acalmar.
D_ _i: Acalmar? Cara...então...então me dá essa bebida aí...Eu tô muito nervoso....eu...
Die_ _: Davi, você não bebe. Tem certeza?
Da_ _: Certeza. [bebe]
D_ _se: [chora] A gente precisa ligar pra polícia.
Di_ _o: Sim. Isso mesmo. Temos que ligar pra polícia.
_ _vi: [bebendo] Polícia. É.
Di_ _o: [pega o telefone] Alô? Polícia? Eu quero informar um caso de triplo homicídio qualificado. Na casa 4 em frente ao...isso mesmo. Obrigado.
Dei_ _: Triplo? Como assim?
_ _ego: É Deise. O Daniel, o Davi e você.
D_ _se: O quê?
Die_ _: Sim. Você não estava nos meus planos, assim como aquele policial, mas...precisa morrer.
:O COMO ASSIM? [eu queria poder ver sua cara agora]
D_ _se: Mas...Então foi você quem matou o Daniel?
Die_ _: Sim. Eu matei ele.
_ _ise: Mas...Por quê?
Di_ _o: Pelo mesmo motivo que forjei a traição dele: apenas por diversão.
Dei_ _: Então...Oh! [chora]
_avi: [tosse e passa mal]
De_ _e: Ah! Davi! O que tá acontecendo?
Die_ _: O veneno da bebida está fazendo efeito. Eu planejei matar apenas o Daniel dessa forma. Olha só Davi, eu estava guardando isso aqui pra você. [mostra a arma que estava dentro da caixa do filme]
Dav_: [passa mal]
D_ _se: Seu monstro!
_ _ego: Ora, nem é pra tanto.
_ _ _se: Oh...Davi?...Ele...
Di_ _ _: Bom. E agora chegou sua vez. [engatilha a arma]
D_ _ _e: [corre e apaga a luz]
_ _ _go: Desgraçada!
[som de briga corporal]
[tiro]
[Ligação: tuuu...tuuuu..tuuu...]

D_ _ _ _: Alô? Polícia?