quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Basquetebol para cadeirantes: o destaque dos persistentes

O basquetebol de cadeira de rodas tem suas primeiras encestadas após a Segunda Guerra Mundial. Combatentes feridos se reuniam nas quadras para jogar. Isso ajudava no processo de recuperação e reintegração dos soldados na sociedade. Outros esportes, que posteriormente se tornaram competições oficiais, têm histórias semelhantes por conta dessa vertente humana; característica chave desses desportos.
 A recuperação através do esporte está bem claro quando conhecemos João Lopes. Aos 25 anos ele deixou de andar. Para muitos seria o fim da vida, mas com o apoio de familiares e a própria força de vontade ele não se deixou abater. “Tive várias complicações médicas após um acidente de carro. O médico disse que minha coluna ficou muito lesionada e que era um milagre eu estar vivo”, conta Lopes.
 O atleta, que na época não passava perto de uma quadra, hoje praticamente respira basquetebol. “A primeira vez que joguei foi incrível. É muito bom fazer parte de algo. Mesmo sem poder andar eu me sinto voando no jogo”, complementa o jogador que sonha em participar de alguma Paralimpíada.
 E curiosamente, mesmo com pouca divulgação, o basquetebol de cadeira de rodas já está presente desde a primeira edição dos jogos adaptados. Em 1960 em Roma, Itália, atletas de 23 países disputavam a almejada medalha de ouro. Em 1968, as mulheres entraram na disputa em Tel Aviv, capital de Israel, tornando-o mais conhecido.

 O jogo é extremamente parecido com o basquete tradicional. De acordo com informações do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), “as dimensões da quadra (28 m x 15 m) e a altura da cesta (3,05m) são as mesmas do basquete olímpico”. A modalidade também é praticada por atletas de ambos os sexos que tenham alguma deficiência físico-motora.
 Diferente de outros esportes adaptados - por exemplo, o futebol que possui cinco atletas totalmente cegos por equipe - no basquete para cadeirantes os jogadores recebem uma pontuação de acordo com o grau de deficiência. Essa escala vai de 1 até 4.5, onde os atletas mais funcionais ganham as menores classificações. Isso obriga o treinador a utilizar jogadores de diversos níveis. Atentando-se para o somatório da equipe, em quadra, que não pode ultrapassar 14 pontos.
 

 A padronização das cadeiras de rodas é realizada pela International Wheelchair Basketball Federation (IWBF), a Federação Internacional de Basquetebol em Cadeira de Rodas. Ela é quem define o diâmetro máximo dos pneus - 66cm -, a altura do assento e do apoio para os pés. A almofada no assento não pode ter mais de 10cm de espessura, exceto para os atletas das classes 3.5, 4.0 e 4.5. Para esses casos, o máximo são 5cm de espessura. A cadeira também não pode ter sistema de direcionamento, marchas e freios. Essas e outras regras são checadas pelos árbitros antes do início da partida.
 No Brasil, o basquetebol para cadeirantes deu-se por intermédio de Sérgio Del Grande e Robson Sampaio que, ao retornarem de um programa de reabilitação nos Estados Unidos, trouxeram esta modalidade para São Paulo e Rio de Janeiro. Dada a boa receptividade, Sampaio fundou no Rio o Clube do Otimismo, e Del Grande, o Clube dos Paraplégicos em São Paulo.
 Com o aumento de escolas e times em todo o Brasil, a CBBC foi criada para coordenar e padronizar a prática no país. Essa entidade, por sua vez, responde diretamente a IWBF, que é o órgão dirigente a nível mundial. A CBBC tem sede em Pernambuco e é também responsável por coordenar as competições.
 Ao longo do tempo várias equipes e projetos foram criados popularizando, assim, o esporte. Um exemplo é a Associação dos Deficientes Físicos de Pernambuco (ADEFE-PE).
Localizada no bairro Arruda, no centro do Recife, a ADEFE-PE é uma organização que seleciona, treina e apoia atletas do basquete em cadeira de rodas, badminton e atletismo.


 “Para ingressar no time basta se apresentar nos dias de treino, que são às quintas-feiras a partir das 17h, e participar das atividades”, explica Kilber Alves, vice presidente da associação. Além disso, ele ressalta que antes os  jogadores tinham dois dias de treino. Sendo dois  para o basquete e um para o badminton. Só que devido à uma reorganização de horários o basquete perdeu um dia.
  E mesmo com grande representatividade - no Parapan de 2016 seis atletas pernambucanos estavam entre os competidores - existem problemas pontuais que atrapalham o desempenho das atividades. “A principal dificuldade é a falta de cadeiras. E também material de reposição que é difícil de achar e caro. E falta um espaço mais adequado para treino, que como eu já falei é apenas um dia, o que é insuficiente”, finaliza.
 Valdemar Silva é um dos principais jogadores do time e um dos responsáveis por manter as atividades na ADEFE-PE. Ele concorda com Kilber e destaca as diferenças estruturais do estado com o resto do país. “No sul e sudeste os times tem suporte, apoio e recebem para jogar. Aqui a gente depende da associação para tudo. Se eles não ajudarem não tem condição do time  sobreviver”, destaca o jogador..
 Um dos veteranos e pivô do time, Luís Antônio, ressalta a importância da ADEFE-PE e do esporte na vida dele: “Sofri um acidente aos 13 anos. Um carro passou por cima das minhas pernas e nunca mais consegui andar. Fiz alguns tratamentos, mas a maioria é muito caro e não dava pra mim. Quando vim pra cá, lá pelos 20, foi mudança total. A vontade é de jogar o tempo todo porque motiva muito a pessoa”.
 Luís está ciente das dificuldades em conseguir cadeiras adequadas por isso, quase sempre, posta nas redes sociais pedidos encarecidos de apoio financeiro ao time. “A gente tem que fazer o que pode. A situação não tá fácil, mas temos que tentar”, concluiu o pivô.
 E essa é uma máxima que está presente na mente do time. Mesmo com todos os empecilhos, a equipe permanece motivada e se depender deles as rodas vão continuar girando, pois para eles o basquetebol para cadeirantes representa a persistência pela vida.


Equipe ADEFE-PE