terça-feira, 12 de fevereiro de 2013


ZÔO NO METRÔ

 Sabe aquela sensação que você sente quando está esperando o metrô e percebe que ficou exatamente na frente de onde um vagão começa e outro termina? É tão frustrante! Você torce pra ser a porta da vitória, mas o que vem é o espaço da decepção.
 Mesmo tendo passado por isso consegui um assento. Porém, não era dos melhores, pois, além de ser no lado do corredor me deixava de frente com um homem narcisista de bigode.
 Como eu sabia que ele era narcisista?
Bom...Sabe aquele tipo de pessoa que tem coragem de usar uma camisa com o seu próprio rosto estampado nela? Pois é.
 Eu não sabia o que era pior: o chumaço de pelos faciais real ou aquela enorme mancha branca de tinta preta destacando-se no pano branco. E para piorar ele ainda passava os dedos constantemente alisando-os com um certo orgulho doentio.
 Aquilo estava me hipnotizando. Eu estava sendo sugado por um vórtice inter-capilar(?). Até que fui trazido violentamente de volta a realidade por uma mulher que estava falando indiretamente com todos os passageiros do vagão. Ao que tudo indica quando o assunto é sobre terceiros nos é exigido mais das cordas vocais – E cada vez mais – Além de ser super engraçado.
 Era difícil concentrar-se em outra coisa, mas notei uma moça extremamente magra, não muito distante de onde eu estava, comendo pipoca.
 Por que isso me chamou a atenção?
 Bom. É que ela enfiava a mão dentro do saco para retirar grãos de milhos processados diversas vezes e já há um bom tempo. Isso estava me angustiando. Que coisa! Por que ela demorava tanto? Será que o saco tinha um fundo falso? Devia estar amanteigada.
 Minha vontade era de arrancar o saco de papel – com infinitas pipocas dentro – da mão daquela flamingo, colocar o celular daquela hiena dentro e esfregar na cara daquela morsa narcisista-compulsiva.
 Ah! Meu Deus do céu. Eu estava suando como um porco.
 Respirei fundo. Contei até dez mentalmente. Distraí-me com as paisagens do outro lado. Aparentemente a situação estava melhor. Então resolvi voltar minha vista para aquele zoológico e me deparei com uma visão aterradora: A moça extremamente magra continuava comendo seu lanche mas agora passava a mão metodicamente pelos lisos cabelos. A mulher do meu lado ainda gritava ao telefone: “Tá cortando! Tá cortando! Peraí não estou te ouvindo. Crunch, crunch, crunch.” O “crunch” era do barulho que ela fazia quando comia pipoca recentemente tirada de sua bolsa. E o cara narcisista continuava a passar a mão metodicamente naquele bigodão e agora também falava ao telefone!
 Não! Era um castigo. Provavelmente eu estava a caminho do inferno. Aquilo deveria ser uma pequena amostra do que me aguardava. Talvez o inferno esteja repleto de diabinhos bigodudos-obsessivo-compulsivo-comedores-de-pipoca-fofoqueiros-móveis. Tudo bem. Agora parece absurdo, mas no momento eu estava a ponto de apertar o botão de freio automático e pular do vagão.
 Sim. Talvez eu deva me tratar. Mas isso não vem ao caso agora...
 O cara parecia estar falando sobre o bigode dele. Aquilo era um absurdo! Será que manteiga de pipoca é um novo tipo de xampu? E com mil diabinhos! A sua língua devia ser cortada também!
 Não estava aguentando mais. Só que o que é ruim sempre pode piorar. Olho para o lado e vejo uma mãe, com uma criança no colo , falando ao telefone e alisando compulsivamente a cabeça da filha que comia feliz da vida sua pipoca.
 Tive um mine ataque cardíaco.
 Respirei fundo. Cedi meu lugar para a mãe canguru. Desci do metrô. Peguei um táxi.
E ai de você se me perguntar como eu sabia que ela era mãe.                              
MAX

Um comentário:

  1. O metrô é um museu de grandes novidades, em cada visita vemos uma estátua diferente (pronta para nos matar do coração).

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