quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013



...VOCÊ NUNCA ESQUECE

Realmente estava um dia lindo. Nuvens escuras no céu; chuva constante desde a madrugada. Era um sábado perfeito para assistir um filme. Após o café fui imediatamente à locadora.
O alugador estava organizando alguns filmes e disse que estava disposto a me ajudar no que fosse possível. Agradeci e parti para a sessão de comédia.
Belíssiams caixas vazias acomodavam-se nas prateleiras. Alguns eu já tinha visto. Outros eu já tinha visto várias vezes. Peguei então um por acaso. O dono da loja – que já havia cumprido sua tarefa – disse que esse filme ainda não tinha sido alugado, pois, acabara de chegar na loja. Tremendo um pouco; devolvi. Peguei, então, um dos que eu já tinha visto.
Dirigi-me ao balcão para o procedimento de sempre e o organizador começou a puxar conversa.
- Que chuva, hein? Quando será que vai parar?
- Ahn? Não sei.
- A carteirinha.
- Ah! Sim. Aqui.
- Sabe de uma coisa? Eu não gosto de chuva.
- Hum.
- E você?
- Eu o quê?

- Gosta de chuva?
- É...Tanto faz.
- Sei. São dois reais.
- Ah! Sim. Aqui.
- E sabe qual é o pior de tudo?
- Ahn? Não sei.
- É um sábado!
- Ah.
- Sábado e chuva: péssima combinação.
- É...
- Pois é. Vou pegar seu troco. Ah! Já ia esquecendo. Estamos inaugurando um sorteio hoje. O alugueu de um filme dá direito a um cupom. Você prrenche e coloca nesta urna. O prêmio é um moderno aparelho de DVD. Aquele que está ali no cartaz.
- ...
- E então?
- É...Você disse inauguração?
- Sim. Começamos hoje. E como você é o primeiro cliente do dia...
- Co-como assim? Pri-primeiro?
- É. Primeiro cliente. O senhor está se sentindo bem?
Tirando a gagueira, o suor frio e a vontade de desmaiar eu estava ótimo!
Respirei fundo e lhe disse no tom mais calmo que consegui – que para ele deve ter parecido com um surfista desesperado sendo atacado por tubarões – :
- Eu desisti de alugar o filme.
- Nossa. Mas por que?
- Não é nada. Eu...apenas mudei de ideia.
- Eu posso lhe indicar outro filme, então.
- NÃO!
- ...
- Não. Eu apenas quero o dinheiro de volta.
- Ah. Ok. Aqui está.
- Obrigado.
- O senhor está realmente bem?
- Estou. Sim. Ótimo. Estou. Obrigado.
Saí tranquilamente da loja – que para ele deve ter parecido com um psicopata em fuga alucinada.
Puxa vida. Aquilo era constrangedor. Detestava quando acontecia. Tentei relaxar. Caminhei por algun tempo e comprei um picolé de abacate. Picolé de abacate me ajudava a relaxar.
Ainda chovia quando voltei à loja. O alugador/organizador/dono da loja estava no balcão atendendo uma velhinha. Ou melhor, estava explicando que não alugava mais VHS.
- Mas eu sempre alugava aqui por um cruzado.
- Eu sei senhora. Mas isso já faz tempo...
Esperei ele destruir as esperanças da pobre idosa e fui até o balcão com o mesmo filme de antes.
- Oi. É...eu vou alugar esse aqui.
- Ah. Sim. Mudou de ideia, então?
- É...Bom...É que...É que é compicado explicar.
- A carteirinha.
- Ah! Sim. Aqui. Bom. É que na verdade eu tenho um tipo de fobia.
- Hum.
- É. Sabe? Coisas relacioandas a ser o primeiro me deixam um tanto que...desconfortável.
- Sei. São dois reais.
- Ah! Sim. Aqui. Pois é. Então por isso devolvi aquele filme, pois, ninguém tinha alugado ele. E quando soube que era o primeiro cliente do dia e que ainda podia estrear um sorteio fiquei um pouco...desconfortável – que para você deve ter parecido com uma moça sofrendo uma extração dentária sem anestesia.
- Ah. Não. Não.
- Bom. Então foi isso o que aconteceu. Eu sei. É bastante diferente, mas é a verdade.
- É...
Nesse momento a velhinha dos VHS – que ainda não havia desistido – me disse:
- Olha meu jovem. Eu acabei ouvindo sua conversa e devo dizer que achei muito estranho.
- Ah! Sim. É. É realmente muito estranho.
- E para falar a verdade você é a primeira pessoa, que eu conheço, que tem esse tipo de fobia.
- Ah...Mas que filha da p...
- Seu troco, senhor.

MAX

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