sábado, 7 de janeiro de 2017

AQUELA DO LÁPIS


  Se apaixonaram no momento em que se conheceram. E assim que se conheceram ele já estava dentro dela. Foi rápido porém muito bom. Ele ficou um pouco tonto e menor, mas já ansiava pela próxima vez. Ainda tinham vestígios dele dentro dela. E ela adorou isso.
  O último relacionamento do lápis havia sido bastante estável e duradouro. E embora ela ainda estivesse em sua cabeça foi decisão dele encerrar aquela história. A borracha era uma ótima companhia. É verdade. Mas ficar sempre com ela tirou o prazer da descoberta e o mistério do que estaria por vir. Era sempre o mesmo. A comodidade rotineira tornou-se desgastante. E ela também já não aguentava apagar os erros dele. No fim foi bom para ambos.
 Já com a lapiseira era sensacional. Ele estava em um mundo novo. Nunca sabia quando estariam juntos. Era sempre uma surpresa. Se bem que ele suspeitava que tinha algo a ver com sua ponta pequena. Quem entende? Nem sempre tamanho é documento. Ela sempre estava feliz e receptiva. Com um sorriso de ponta a ponta ele sentia que ela queria consumi-lo. E sendo honesto ele queria muito isso. Seu grafite nunca tinha sido tão desejado como agora. Nem quando teve um breve relacionamento com a caneta.
  Ele adorava a caneta. Nem conseguia acreditar que estavam juntos. Ela era belíssima e todos a queriam. E ainda por cima tinham os mesmos sonhos, gostavam das mesmas coisas. Entretanto ele sentiu-se sufocado. Ela queria algo permanente de imediato. Ele, do contrário, queria testar antes pra saber se aquilo daria certo a longo prazo. Ela gritava que sua tinta estava acabando enquanto ele tentava acalmá-la. Como não chegaram a um acordo, ela tampou-se e partiu.
  Mas agora tudo estava perfeito. Ele estava envolto em um turbilhão de sentimentos avassaladores. Era maravilhoso estar com a lapiseira. Estava perdidamente apaixonado e não se via com mais ninguém. Até que um dia tudo transformou-se em pó. O sonho ficou manchado quando ele a viu apontando outro. Um lápis preto enorme. Aquilo o deixou desapontado.

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