ZÔO NO METRÔ
Sabe aquela sensação que você sente
quando está esperando o metrô e percebe que ficou exatamente na frente de onde
um vagão começa e outro termina? É tão frustrante! Você torce pra ser a porta
da vitória, mas o que vem é o espaço da decepção.
Mesmo
tendo passado por isso consegui um assento. Porém, não era dos melhores, pois,
além de ser no lado do corredor me deixava de frente com um homem narcisista de
bigode.
Como eu sabia que ele era
narcisista?
Bom...Sabe aquele tipo de pessoa que tem
coragem de usar uma camisa com o seu próprio rosto estampado nela? Pois é.
Eu não sabia o que era pior: o
chumaço de pelos faciais real ou aquela enorme mancha branca de tinta
preta destacando-se no pano branco. E para piorar ele ainda passava os dedos
constantemente alisando-os com um certo orgulho doentio.
Aquilo estava me hipnotizando. Eu
estava sendo sugado por um vórtice inter-capilar(?). Até que fui trazido
violentamente de volta a realidade por uma mulher que estava falando
indiretamente com todos os passageiros do vagão. Ao que tudo indica quando o
assunto é sobre terceiros nos é exigido mais das cordas vocais – E cada vez
mais – Além de ser super engraçado.
Era difícil concentrar-se em outra
coisa, mas notei uma moça extremamente magra, não muito distante de onde eu
estava, comendo pipoca.
Por que isso me chamou a atenção?
Bom. É que ela enfiava a mão dentro
do saco para retirar grãos de milhos processados diversas vezes e já há um bom
tempo. Isso estava me angustiando. Que coisa! Por que ela demorava tanto? Será
que o saco tinha um fundo falso? Devia estar amanteigada.
Minha vontade era de arrancar o saco
de papel – com infinitas pipocas dentro – da mão daquela flamingo, colocar o
celular daquela hiena dentro e esfregar na cara daquela morsa
narcisista-compulsiva.
Ah! Meu Deus do céu. Eu estava
suando como um porco.
Respirei fundo. Contei até dez
mentalmente. Distraí-me com as paisagens do outro lado. Aparentemente a
situação estava melhor. Então resolvi voltar minha vista para aquele zoológico
e me deparei com uma visão aterradora: A moça extremamente magra continuava
comendo seu lanche mas agora passava a mão metodicamente pelos lisos cabelos. A
mulher do meu lado ainda gritava ao telefone: “Tá cortando! Tá cortando! Peraí
não estou te ouvindo. Crunch, crunch, crunch.” O “crunch” era do barulho que
ela fazia quando comia pipoca recentemente tirada de sua bolsa. E o cara
narcisista continuava a passar a mão metodicamente naquele bigodão e agora
também falava ao telefone!
Não! Era um castigo. Provavelmente
eu estava a caminho do inferno. Aquilo deveria ser uma pequena amostra do que
me aguardava. Talvez o inferno esteja repleto de diabinhos
bigodudos-obsessivo-compulsivo-comedores-de-pipoca-fofoqueiros-móveis. Tudo
bem. Agora parece absurdo, mas no momento eu estava a ponto de apertar o botão
de freio automático e pular do vagão.
Sim. Talvez eu deva me tratar. Mas
isso não vem ao caso agora...
O cara parecia estar falando sobre o
bigode dele. Aquilo era um absurdo! Será que manteiga de pipoca é um novo tipo
de xampu? E com mil diabinhos! A sua língua devia ser cortada também!
Não estava aguentando mais. Só que o
que é ruim sempre pode piorar. Olho para o lado e vejo uma mãe, com uma criança
no colo , falando ao telefone e alisando compulsivamente a cabeça da filha que
comia feliz da vida sua pipoca.
Tive um mine ataque cardíaco.
Respirei fundo. Cedi meu lugar para
a mãe canguru. Desci do metrô. Peguei um táxi.
E ai de você se me perguntar como eu sabia
que ela era mãe.
MAX
O metrô é um museu de grandes novidades, em cada visita vemos uma estátua diferente (pronta para nos matar do coração).
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