sábado, 16 de março de 2019

Uma viagem pelas ondas dos podcasts 


Desde 2004, Adam Curry, já distribuía seus próprios programas na internet. Com origens nas rádios FM, Curry soube aproveitar o novo espaço virtual que surgia. Por conta disso ele é considerado o pai do podcast.

Por estar historicamente ligado às rádios, é comum que um leigo pense que podcast é um “programa de rádio feito para internet”. Entretanto, as diferenças se agigantam quando há uma comparação mais aprofundada entre os dois formatos, como explica a professora universitária e apresentadora da Rádio Frei Caneca FM, Ivanice Lima.

“Um podcast é um material, sob demanda, pensado de maneira mais independente. Já um programa de rádio opera seguindo a linha editorial de uma determinada emissora”, pontuou.

Além disso, o podcast visa atingir um nicho específico, enquanto o rádio tenta ser o mais abrangente possível, pois sua audiência é medida diretamente através do confronto entre emissoras.

Periodicidade também é um fator que se diferencia entre os dois formatos. Dificilmente você vai encontrar um podcast diário. O nível de produção geralmente é mais baixo e feito com uma equipe reduzida. Até mesmo uma única pessoa pode produzi-lo. Basta ter o domínio dos programas e criatividade.


Os podcasts tupiniquins


Essa nova maneira de disponibilizar programas em arquivos de áudio, onde qualquer um poderia baixar, se espalhou como um vírus. Nos anos seguintes, mais e mais podcasts surgiram por todo o mundo, inclusive aqui no Brasil.

Assim que o podcast começou a “fazer os ouvidos” dos brasileiros, vários prêmios foram criados para reconhecer os mais prestigiados produtores de conteúdo dessa nova mídia. Nessa seara de vencedores, o Nerdcast se destaca. Em 2012, o programa recebeu o Prêmio hors-concours na categoria Melhor Podcast do YouPix. Desde então, não compete mais.

O Nerdcast foi criado por Alexandre Ottoni (Jovem Nerd) e Deive Pazzos (Azaghal), em 2006, como uma extensão do blog Jovem Nerd - um portal especializado em noticiar e comentar (com muito bom humor) assuntos de entretenimento da cultura pop.

E embora quadrinhos, séries, jogos e filmes representem uma fatia grande dos assuntos abordados no meio, - além do Nerdcast, existem o Matando Robôs Gigantes, Asterisco, Papricast, Rebobinando, Rapadura Cast, UltraGeek - a podosfera* está repleta dos temas mais variados.

A Revista Piauí aborda semanalmente assuntos do meio político no Foro de Teresina. Os jornalistas podem se deleitar com o BRIO - “um podcast sobre jornalismo e jornalistas”. E quem curte futebol pode acompanhar religiosamente o Pelada na Net.


“Fiquei fascinado com aquilo”


O comediante, Rodrigo Fernandes, mais conhecido por Jacaré Banguela - nome do blog criado por ele em 2004 -  e uma das presenças mais antigas da internet, era curioso em relação à essa nova mídia, mas não se via como produtor.

No episódio 251 do Radiofobia, explicou o que o motivou a criar o Jacaré BANcast!



O ano do podcast


Desde o primeiro episódio, o Jacaré BANcast! segue a premissa metalinguística de tocar áudios dentro de outro áudio. A ficção da vida real ganha outra perspectiva nas plataformas digitais. E foi justamente a abertura dessas plataformas que impulsionou o projeto de Fernandes.

Mesmo que o termo “pod” seja uma referência ao iPod da Apple, plataformas como Deezer e Spotify abraçaram os podcasts. Isso fez com que a mídia fosse apresentada à um público mais amplo. As pessoas não precisam ir atrás de programas na internet que falem de temas específicos. Basta acessar seu tocador de música preferido e dar o play em algum programa de áudio feito para a internet.

Até a Vênus Platinada parece que se rendeu ao formato. O podcast Zorra, reúne roteiristas do humorístico televisivo da Rede Globo para bater papo com outros humoristas - e até pastores (Episódio 10).

Independente do formato, tema ou periodicidade, o podcast tem audiência cativa.




* Esfera onde se incluem todos os podcasts. Equivalente à blogosfera para os blogs.

domingo, 23 de setembro de 2018

Mesmo com 44% do horário eleitoral gratuito, Alckmin patina entre os terceiros colocados


  O tempo que os candidatos têm disponível na TV e no rádio parece não estar contribuindo
muito para a campanha dos presidenciáveis. Geraldo Alckmin (PSDB), que acumula a maior
fatia do horário eleitoral, está embolado com Ciro (PDT) e Marina (REDE) no terceiro lugar
entre a preferência do eleitorado, segundo a última pesquisa Datafolha. Enquanto isso, Jair
Bolsonaro (PSL) segue isolado no primeiro lugar das intenções de voto, mesmo tendo apenas
8 segundos da faixa gratuita.
Os detalhes referentes a todos os presidenciáveis você observa logo abaixo:

Distribuição do tempo de horário eleitoral gratuito reservado aos presidenciáveis
*De acordo com a pesquisa registrada no TSE sob o código BR-06919/2018

Historicamente esse tempo é utilizado para se defender de ataques, atacar outros candidatos
e apresentar propostas. No infográfico a seguir você acompanha como é feita a distribuição do
horário eleitoral gratuito. 
A aliança que o tucano fez com o chamado bloco do centrão lhe rendeu 5 minutos e 38
segundos de rádio e TV, mas não está sendo o suficiente para dar uma guinada na
candidatura. A pesquisadora e cientista política Priscila Lapa, relembra que os próprios
dirigentes do partido reconheceram os erros desde as últimas eleições, ocasionando um
afastamento do eleitor tradicional. "A incapacidade do PSDB de protagonizar, no cenário
nacional, o antipetismo, acabou abrindo espaço para outras candidaturas. Então, o PSDB já
chegou desorganizado e enfraquecido para esse processo eleitoral e dificilmente um maior
tempo de rádio e televisão conseguiria reverter isso", aponta a cientista.
Em relação a Jair Bolsonaro ela destaca que o candidato está no palanque a muito mais
tempo do que os outros presidenciáveis. Algumas ações do parlamentar já eram utilizadas
como atos de campanha presidencial atraindo uma parcela de seguidores. "Nesse ponto de
vista realmente os meios tradicionais de se comunicar com o eleitor não fazem mais tanta
diferença, uma vez que o eleitorado dele já está consolidado. E isso no período eleitoral
ganha outra proporção porque as pessoas começam a buscar sua opção e o percebem como
um candidato competitivo", pontua.
Esses fatores somados ao sentimento de insatisfação com a classe política e o uso efetivo
das redes sociais ajudou a capitanizar boa parte das intenções de voto em Bolsonaro.
E essa é uma tática que tem rivalizado com os meios tradicionais. Seja pelo pouco tempo
reservado ou por afinidade com o mundo digital, a campanha na internet tornou-se um filão
importante. Lives, twitaços e memes têm cada vez mais espaço nas ações dos candidatos.
Mas vale reforçar que independente de quão bem a internet ou TV sejam utilizadas, o resultado
na prática não depende apenas deles. "As redes sociais ajudam nesse processo, mas é preciso
observar a conjuntura atual. No caso de Jair Bolsonaro, se não houvesse um contexto político
favorável para o crescimento de um discurso de direita, talvez ele não obtivesse o mesmo sucesso",
conclui a pesquisadora.





segunda-feira, 9 de julho de 2018

EM ANO ELEITORAL, GASTOS COM DIVULGAÇÃO SÃO OS MAIORES

Desde janeiro, 38% da cota dos deputados federais foi gasta com propaganda


Até o momento Wellington Roberto (PR-PB) é o deputado federal que mais gastou com divulgação parlamentar. Foram R$122.000 apenas neste primeiro semestre de 2018. Desde 2015 ele figura entre os dez que mais usaram a Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (CEAP) para divulgar os próprios feitos. De 2013 para cá foram no mínimo R$100.000 por ano destinados a publicidade pessoal. Em 2016 ele encabeçou a lista com um gasto total de R$351.600.
Confira abaixo o top 10 de 2018.
Para a ver a relação completa clique aqui.



O paraibano figura ainda em outra lista: a dos políticos que já estão, no mínimo, em seu segundo mandato. Dos 164* deputados federais reeleitos em 2014, 46 mantiveram gastos com divulgação parlamentar em ano eleitoral. Segundo a legislação, até 120 dias antes das eleições é permitida a utilização da CEAP com publicidade. Mas mesmo com o adendo, essse tipo de exposição parece não influenciar efetivamente no número de votos recebidos. Observe a relação abaixo.



Os parlamentares reeleitos que gastaram acima de R$200.000 não figuram nem entre os 10 mais bem votados de 2014. E o último colocado gastou mais com publicidade que os três primeiros juntos. Então se não há ligação direta com o resultado nas urnas, como explicar esses gastos? Para a professora e doutora em Ciência Política, Luciana Santana, a visibilidade das atividades legislativas ainda é muito baixa comparada ao poder Executivo. "Os parlamentares vão tentar buscar os principais meios para fazer chegar a informação à suas bases eleitorais. E divulgar no sentido de comunicar-se é importante. O que deve-se avaliar é se o uso está sendo feito da maneira mais adequada", afirma a doutora.

E embora não esteja diretamente relacionada à disputa eleitoral, os candidatos si divulgam cada vez mais. Entre as eleições de 2010 e 2014 houve um aumento de 55,89% com propaganda. Em 2017 o montante gasto superou os 57 milhões. A cientista política acredita não existir um motivo exato para esse crescimento, mas sugere algumas hipóteses: "A maior visibilidade de ações dos deputados em pautas nacionais e também o uso das redes sociais, que necessita contratação de profissionais adequados, são fatores a serem considerados".
No gráfico que segue, você observa o montante gasto com divulgação de atividade parlamentar desde 2009.



ANÚNCIOS EM 2018


A CEAP, anteriormente conhecida como verba indenizatória, é um valor mensal variável por estado, exclusiva para auxiliar o deputado em suas atividades parlamentares. Além de divulgação inclui despesas como alimentação, hospedagem, locomoção, telefonia, segurança, entre outros. Desde 2014 a divulgação vem sendo a queridinha dos congressistas. Somente nesses primeiros seis meses do ano ela já representa 38% de toda cota mensal dos deputados federais, deixando para trás despesas com bilhetes aéreos e até combustível.
Acompanhe a seguir a distribuição da CEAP ao longo dos anos.


Como já dito anteriormente, a CEAP varia por estado. O cálculo é feito com base no número de representantes de cada federação. Não é pra menos que São Paulo, com seus 70 legisladores,  é o estado que mais gasta com divulgação parlamentar seguido por Minas Gerais (53 deputados). A Bahia, representada por 39 deputados, ocupa a terceira posição deixando para trás os 46 congressistas do Rio de Janeiro. No gráfico abaixo você observa os gastos de cada estado.

Dos 513 deputados federais, 61 são do Partido dos Trabalhadores. É a maior bancada da Câmara Federal. E desde o começo do ano essa legenda despendiu mais de R$1.300.000 em publicidade parlamentar. O MDB - partido do atual governo - está em segundo lugar tanto em número de cadeiras quanto nos gastos acumulados.
Escolha um ano abaixo para verificar os gastos com divulgação de cada partido.

Do começo do ano até junho o valor total destinado à divulgação de atividade parlamentar já beirava os 11 milhões de reais. Resta agora saber quanto esse número ainda irá aumentar.















* Políticos que permaneceram na mesma legenda

quinta-feira, 1 de março de 2018

Um conto de carnaval


Ju estava fascinada com o colorido. A alegria da menina era contagiante. Ela pulava, ria, batia palmas e se sacudia nos ombros do pai que mantinha a garota apoiada nos ombros. Tomas também estava se divertindo, mas não conseguia afastar o pensamento de que muito provavelmente aquela seria a última festa de carnaval em família.
  Ele e Laura conversaram bastante no começo de janeiro. Decidiram tentar novamente. Afinal, ele reconhecia que estava ausente. Principalmente com a filha que acabara de completar cinco anos.
  E foi justamente na festa de aniversário da garota que Laura não conseguiu suportar a culpa que carregava consigo. Acabou sendo mais fácil despejar sobre o marido as três vezes em que manchou o relacionamento de adolescência.
  Depois de assoprar as velinhas Ju deu um beijo na bochecha do pai. Laura que mal conseguia conter as lágrimas e segurar a menina nos braços ainda teve que ouvir a filha implorando por uma fantasia de pirata pra foliar.
  Saber que a filha o estava esperando fez com que Tomas chegasse dois dias depois de ter partido decidido a perdoar. E também a ser perdoado, pois não tinha encontrado a bendita fantasia de pirata.
  Mesmo assim Ju ficou satisfeita vestida de marinheiro enquanto tentava alcançar as cabeças gigantes que passavam perto dela.
  A noite estava sem estrelas no céu. Talvez isso fosse um capricho do universo pra destacar a lua exuberante que ornava o firmamento e iluminava as ruas de Olinda. E era pra esse ponto brilhante que Laura olhava insistentemente. A lua trazia lembranças da mãe que tinha partido antes da hora. Sílvia - ou Sil, como gostava de ser chamada - sempre falava dos poderes lunares. E não era de uma forma alegórica com o intuito de passar uma lição.
A história preferida de Laura era a da purificação.
  Sil contava que sempre na última lua cheia do mês o espírito da noite descia à Terra pra purificar as almas impuras. Esse espírito vinha na forma de uma gata negra. Quem avistasse a gata deveria lhe dar pouco de leite frio. A bebida representava os pecados das pessoas. Se a gata não bebesse tudo significava que as ofensas não eram tantas. Mas quase sempre o animal se enroscava nas pernas do pecador pedindo mais.
  Laura nunca se deu ao trabalho de procurar tal espírito da noite, mas nas três vezes que ficou com o antigo colega de escritório, bebia um copo de leite gelado. Ela dizia pra si mesma que era um ato inconsciente. No fundo ela sabia que não era verdade.
  E ali, mesmo estando no meio de centena de pessoas, ela tentava acreditar que tudo estava bem. Bem no fundo ela sabia que aquela seria a última festa de carnaval em família.
  As pessoas vinham de todos os lugares. O amontoado de gente já estava tornando aquele ambiente insuportável. Aquela espécie humanóide ancestral não parecia se importar com tamanho desconforto. Como aquilo podia ser considerado divertido?
  As figuras aparentemente famosas haviam sido agigantadas de tal forma que tornava toda a festa um espetáculo bizarro e de muito mal gosto. Mas mesmo assim todos estavam se divertindo. Principalmente as crianças.
  E eu só estava ali por causa de uma delas. Uma bem especial. As pessoas nessa época a conheciam pelo nome de Júlia - ou Ju. Aquela que daria início a uma linhagem de humanos corrompidos. No futuro eles seriam chamados de alegorias. Uma espécie que estava destruindo todo mundo. Por isso um grupo de cientistas me enviou do futuro pra eliminar a fonte do problema. “Júlia, a Fonte”. É assim que as alegorias se referem à mãe deles.
Do contrário ela os mata.
Ju foi a primeira a perceber o princípio de confusão. Um brilho trespassou os olhos de todos os bonecos gigantes. No mesmo instante a estrutura dos bonecos foi alterada de uma forma inexplicável. O machê da composição foi esquentando pouco a pouco. O vapor que emanava dos personagens não permitiu que os foliões vissem a  transfiguração que ocorria. A carne dos carregadores, que até então eram a “alma” dos bonecos, foi fundida à madeira de apoio e se entranhou ao isopor dos gigantes que agora estavam vivos.
  No primeiro grito de Ju três pessoas foram esmagadas pelas mãos terrivelmente poderosas da versão gigante de Elba Ramalho. Segundos depois um Reginaldo Rossi colossal estraçalhou uma mulher como se esmagasse manteiga. As entranhas da pobre coitada caíram a poucos centímetros de Laura que estava completamente paralisada de terror.
O pânico inundou a estreita rua da cidade que já estava inundada de sangue.
  Os bonecos gigantes aparentemente não tinham um objetivo. Parecia até que eles só queriam matar o maior número de pessoas que pudessem. Embora parecessem pesados esses monstros do carnaval eram extremamente ágeis. Os ataques eram precisos e fatais.
  Três crianças estavam abraçadas num canto e só tiveram tempo de olhar pra cima antes de serem transformadas em uma pasta indistinguível de carne morta.
A agente 672 viu aquela cena, mas não teve muito tempo pra lamentação. Afinal ela estava ali por apenas uma criança: Ju.
  Ainda era possível vislumbrar o meu alvo ao longe, pois o pavor não havia descido a criança. Ele estava tão aterrorizado quanto sua companheira. A posição deles também era boa para uma aproximação rápida já que o ataque dos gigantes estava acontecendo a poucos metros à frente da família. Mas como eles estavam sendo arrastados por uma multidão desesperada eu tive que agir rápido.
(Se eles tivessem ficado só um pouquinho mais rápido meu trabalho teria sido facilitado...).
  Infelizmente eu estava impossibilitada de passar por conta das centenas de pessoas que quase formavam um tringon em alta velocidade.
  Decidi ativar o ícarus pra sair do chão. Um disparo seria mais que suficiente. E eu nunca havia errado um tiro. Principalmente um aéreo.
  Foi quando o monstruoso Alceu Valença se virou e os encarou. Foi naquele momento que Tomas se moveu por conta própria, pois ele já estava sendo arrastado  involuntariamente pela turba ensandecida.
  Laura, milagrosamente ainda estava agarrada ao marido. Ela também conseguiu despertar do aparente transe em que estivera e fazia o máximo de esforço pra correr a toda velocidade. Ela não podia perder a família.
  Não havia uma explicação, mas alguma coisa lhe dizia que aquilo era culpa dela. Essa sensação não fazia sentido, mas não a largava. Assim como a enorme mão do Alceu que suspendeu ela com imensa facilidade.
  Quando estava sendo alçada, Laura ainda conseguiu ver uma mulher voando. Aquilo só poderia ser um delírio pré-fim inevitável. Ou talvez o espírito lunar.
  Imediatamente ela sentiu suas costelas se partindo e o gosto de ferrugem veio a tona. Aquela história de que toda sua vida passa diante dos seus olhos na hora da morte é pura bobagem. Ela só conseguia pensar nos pecados que havia cometido.
E bem ali naquele momento de dor intensa, abriu um sorriso. Ela sorriu porque não teria mais que sentir culpa. Era o fim de tudo... chega de arrependimentos… ela...
Não conseguiu completar.
….
  Eu estava com a fonte na mira. A rajada solar concentrada iria pulverizá-la… e boa parte dos que tivessem ao redor. Mas um certo efeito colateral já era esperado. E nenhum daqueles humanóides iria impactar o futuro de maneira tão agressiva quanto aquela criança.
Mas algo fugiu do meu controle.
Algo tão poderoso que me arrastou de volta para o futuro.
  Eu me virei a tempo de ver a mãe da fonte dar seus últimos suspiros. Foi uma cena terrível. Acho que algo na morte dela desencadeou uma ruptura temporal que desestabilizou o universo. Talvez também porque ela estava grávida - embora ela ainda não soubesse disso.
Portanto, como Lu não nasceu o futuro foi alterado consideravelmente.
  Mas eu estou apenas teorizando aqui já que ninguém se lembra de como as coisas eram.
Na verdade ninguém se lembra de mim. A agente 672 nunca existiu. Me tornei um paradoxo. E sou a única que pode acabar com as alegorias que agoram estão mais poderosas e em maior número.
  No outro dia o que se testemunhou foi uma carnificina nunca vista antes em nenhuma parte do mundo. Carcaças humanas estavam amontoadas.
O cheiro era indescritível.
  Os poucos que sobreviveram lembram que houve um grande clarão branco. Sem som. Apenas o mais puro branco. Após isso os bonecos gigantes entraram em combustão espontânea e viraram cinzas. A matança tinha, por fim, acabado.
No fim de tudo a única criatura viva era uma gata preta que bebia o sangue de Laura.
  E esse é o fim da história como ela é contada pela Fonte. Todas as palavras foram transcritas sem alterações. O desejo da Fonte é que todos saibam a verdade como ela é.
Nosso dever é proteger a Fonte.
Faremos tudo pela Fonte.
Manifesto das Alegorias. Capítulo 1.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Basquetebol para cadeirantes: o destaque dos persistentes

O basquetebol de cadeira de rodas tem suas primeiras encestadas após a Segunda Guerra Mundial. Combatentes feridos se reuniam nas quadras para jogar. Isso ajudava no processo de recuperação e reintegração dos soldados na sociedade. Outros esportes, que posteriormente se tornaram competições oficiais, têm histórias semelhantes por conta dessa vertente humana; característica chave desses desportos.
 A recuperação através do esporte está bem claro quando conhecemos João Lopes. Aos 25 anos ele deixou de andar. Para muitos seria o fim da vida, mas com o apoio de familiares e a própria força de vontade ele não se deixou abater. “Tive várias complicações médicas após um acidente de carro. O médico disse que minha coluna ficou muito lesionada e que era um milagre eu estar vivo”, conta Lopes.
 O atleta, que na época não passava perto de uma quadra, hoje praticamente respira basquetebol. “A primeira vez que joguei foi incrível. É muito bom fazer parte de algo. Mesmo sem poder andar eu me sinto voando no jogo”, complementa o jogador que sonha em participar de alguma Paralimpíada.
 E curiosamente, mesmo com pouca divulgação, o basquetebol de cadeira de rodas já está presente desde a primeira edição dos jogos adaptados. Em 1960 em Roma, Itália, atletas de 23 países disputavam a almejada medalha de ouro. Em 1968, as mulheres entraram na disputa em Tel Aviv, capital de Israel, tornando-o mais conhecido.

 O jogo é extremamente parecido com o basquete tradicional. De acordo com informações do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), “as dimensões da quadra (28 m x 15 m) e a altura da cesta (3,05m) são as mesmas do basquete olímpico”. A modalidade também é praticada por atletas de ambos os sexos que tenham alguma deficiência físico-motora.
 Diferente de outros esportes adaptados - por exemplo, o futebol que possui cinco atletas totalmente cegos por equipe - no basquete para cadeirantes os jogadores recebem uma pontuação de acordo com o grau de deficiência. Essa escala vai de 1 até 4.5, onde os atletas mais funcionais ganham as menores classificações. Isso obriga o treinador a utilizar jogadores de diversos níveis. Atentando-se para o somatório da equipe, em quadra, que não pode ultrapassar 14 pontos.
 

 A padronização das cadeiras de rodas é realizada pela International Wheelchair Basketball Federation (IWBF), a Federação Internacional de Basquetebol em Cadeira de Rodas. Ela é quem define o diâmetro máximo dos pneus - 66cm -, a altura do assento e do apoio para os pés. A almofada no assento não pode ter mais de 10cm de espessura, exceto para os atletas das classes 3.5, 4.0 e 4.5. Para esses casos, o máximo são 5cm de espessura. A cadeira também não pode ter sistema de direcionamento, marchas e freios. Essas e outras regras são checadas pelos árbitros antes do início da partida.
 No Brasil, o basquetebol para cadeirantes deu-se por intermédio de Sérgio Del Grande e Robson Sampaio que, ao retornarem de um programa de reabilitação nos Estados Unidos, trouxeram esta modalidade para São Paulo e Rio de Janeiro. Dada a boa receptividade, Sampaio fundou no Rio o Clube do Otimismo, e Del Grande, o Clube dos Paraplégicos em São Paulo.
 Com o aumento de escolas e times em todo o Brasil, a CBBC foi criada para coordenar e padronizar a prática no país. Essa entidade, por sua vez, responde diretamente a IWBF, que é o órgão dirigente a nível mundial. A CBBC tem sede em Pernambuco e é também responsável por coordenar as competições.
 Ao longo do tempo várias equipes e projetos foram criados popularizando, assim, o esporte. Um exemplo é a Associação dos Deficientes Físicos de Pernambuco (ADEFE-PE).
Localizada no bairro Arruda, no centro do Recife, a ADEFE-PE é uma organização que seleciona, treina e apoia atletas do basquete em cadeira de rodas, badminton e atletismo.


 “Para ingressar no time basta se apresentar nos dias de treino, que são às quintas-feiras a partir das 17h, e participar das atividades”, explica Kilber Alves, vice presidente da associação. Além disso, ele ressalta que antes os  jogadores tinham dois dias de treino. Sendo dois  para o basquete e um para o badminton. Só que devido à uma reorganização de horários o basquete perdeu um dia.
  E mesmo com grande representatividade - no Parapan de 2016 seis atletas pernambucanos estavam entre os competidores - existem problemas pontuais que atrapalham o desempenho das atividades. “A principal dificuldade é a falta de cadeiras. E também material de reposição que é difícil de achar e caro. E falta um espaço mais adequado para treino, que como eu já falei é apenas um dia, o que é insuficiente”, finaliza.
 Valdemar Silva é um dos principais jogadores do time e um dos responsáveis por manter as atividades na ADEFE-PE. Ele concorda com Kilber e destaca as diferenças estruturais do estado com o resto do país. “No sul e sudeste os times tem suporte, apoio e recebem para jogar. Aqui a gente depende da associação para tudo. Se eles não ajudarem não tem condição do time  sobreviver”, destaca o jogador..
 Um dos veteranos e pivô do time, Luís Antônio, ressalta a importância da ADEFE-PE e do esporte na vida dele: “Sofri um acidente aos 13 anos. Um carro passou por cima das minhas pernas e nunca mais consegui andar. Fiz alguns tratamentos, mas a maioria é muito caro e não dava pra mim. Quando vim pra cá, lá pelos 20, foi mudança total. A vontade é de jogar o tempo todo porque motiva muito a pessoa”.
 Luís está ciente das dificuldades em conseguir cadeiras adequadas por isso, quase sempre, posta nas redes sociais pedidos encarecidos de apoio financeiro ao time. “A gente tem que fazer o que pode. A situação não tá fácil, mas temos que tentar”, concluiu o pivô.
 E essa é uma máxima que está presente na mente do time. Mesmo com todos os empecilhos, a equipe permanece motivada e se depender deles as rodas vão continuar girando, pois para eles o basquetebol para cadeirantes representa a persistência pela vida.


Equipe ADEFE-PE